Num de seus melhores filmes, “O Fim de um Longo Dia”, Terence Davies fazia um paralelo entre os fiéis de uma igreja e a plateia de um cinema. A cena, inesquecível, reunia os dois cultos e evidenciava o lirismo do diretor. Em A CANÇÃO DO PÔR DO SOL, seu penúltimo filme, Davies cria outra bela cena de igreja, mas sem qualquer sentido poético ou transcendente. É somente uma missa, mesmo. Tomo isso como exemplo do que falta a esse novo trabalho, no qual o diretor se limita a um finíssimo exercício de academicismo.
A CANÇÃO DO PÔR DO SOL narra o amadurecimento de uma jovem na Escócia do início do século XX. Chris Guthrie (a ex-modelo Agyness Deyn) tem que criar seu espaço junto a um pai tirânico (Peter Mullan), uma mãe suicida, um irmão querido de quem se separa e, finalmente, um marido transtornado pela 1ª Guerra (Kevin Guthrie). A ideia do romance de Lewis Grassic Gibbon (1901–1935) é mostrar a identificação daquela mulher com a terra, que permanece sempre a mesma enquanto os homens se transformam. O filme, porém, fica a meio caminho dessa intenção. Mesmo recorrendo aqui e ali à narração original do livro, Davies não logra penetrar na subjetividade de Chris, ficando na superfície das expressões de espanto ou nas lágrimas de amargura. Há personagens que surgem do nada ou desaparecem sem deixar rastro. O roteiro se prolonga demais e falha redondamente na caracterização do marido embrutecido quando de seu retorno da guerra.
Em compensação, encontramos uma aula de gramática acadêmica, com fusões para marcar a passagem do tempo, desvios de câmera para concluir sequências, tomadas bucólicas em milharais sem fim e ovelhas que passam justamente quando os namorados se encontram na estrada. Não faltam também as canções melancólicas que os personagens de Davies costumam entoar em cena. Mas, também nisso, a profunda ressonância humana da música, presente em seus primeiros filmes, deu lugar à simples ilustração de sentimentos vagos. Terence Davies era melhor quando não queria se parecer com Terrence Malick.