Quem gosta de viajar pelo mundo através do cinema deve carimbar seu passaporte, ao menos uma vez por semana, na bilheteria do Cine Joia. Pela tela de Copacabana passam filmes das mais diferentes (e não raro exóticas) procedências. Mas é preciso olhar com atenção a frequência e horário das sessões, geralmente muito restritos. Na semana passada, lá estava o ótimo “Nojoom, 10 Anos Divorciada”, do Iêmem. Esta semana, estão em cartaz o filipino “Bwakaw”, o coreano “A Criada”, o russo/alemão “Paraíso” e o russo ALMAS SILENCIOSAS, este somente na segunda-feira às 19h25(!)

ALMAS SILENCIOSAS se espalha pelas paisagens da região de Kostroma, Centro-Oeste da Rússia, cortadas por rios e pontes. Por ali se movem dois amigos, levando no carro uma gaiola com dois pássaros raros e o cadáver da mulher de um deles. O objetivo é cumprir um ritual da antiga cultura Mari (ou Merja), levada por tribos da Finlândia no século XVII e hoje engolida pelos eslavos. Banhar a recém-falecida em vodka, adornar os seus pelos pubianos (como os das noivas), incinerar o corpo no local da lua de mel e relatar intimidades do casal são partes integrantes desse ritual. Durante a viagem, porém, informações mais sigilosas virão à tona entre os dois homens.

Um dos personagens é um fotógrafo interessado na compreensão e preservação da cultura Mari. Nesse aspecto, ele é um alterego do diretor Alexei Fedorchenko, devotado cultor do imaginário pagão, mágico e poético dos Mari. Este filme de 2010 não chega a provocar entusiasmo – e as incursões pela memória do pai do fotógrafo, um poeta surrealista, dialogam desajeitadamente com a trama principal. Ainda assim, é uma curiosidade étnica e tanto, além de um bonito road movie por terras radicalmente desconhecidas.