Cada um arma sua barraca onde e pela causa que quer. Os personagens do documentário WAITING FOR B. acamparam durante dois meses na entrada do estádio Morumbi em troca do prazer de serem os primeiros a entrar no show de Beyoncé, em 2013, e ficar o mais próximo possível da estrela. O filme tenta acompanhar esse grupo de fãs exaltados, em sua maior parte rapazes gays e de pouca grana. Na hora de falar sério, a mais famosa negra loura do mundo é apontada como ícone de afirmação racial e sexual. No resto do tempo, é só um disparador de frescuras, arremedos coreográficos e imitações exóticas. Uma comédia, afinal.
Os diretores Paulo César Toledo e Abigail Spinder demonstram certa inexperiência na captação de um processo desse gênero. Não conseguem ir muito além do flagrante casual, o que resulta numa exposição excessivamente fragmentada e superficial. O dia a dia do acampamento não recebe a atenção devida, nem a ponte entre vida de fã e vida pessoal, tentada em relação ao cabeleireiro e à cover, é construída a contento.
Mesmo assim, o filme consegue insinuar a existência de um pequeno cenário típico da globalização. O misto de excitação e apatia daquelas pessoas, completamente marginais num fenômeno midiático gigantesco, diz um bocado sobre a relação entre um mito pop e o afeto dos que se sentem excluídos ou diferentes na sociedade. Um paradoxo digno de reflexão. É só através das projeções deles que Beyoncé aparece no filme, já que a imagem dela mesma se restringe a um flash rápido num celular. Portanto, esqueçamos Beyoncé e fiquemos com seu reflexo nos olhos emocionados da galerinha pobre de São Paulo.