Antropofagia de classe

O CLUBE DOS CANIBAIS

A luta de classes ganha uma alegoria de impacto em O CLUBE DOS CANIBAIS. Esse impacto, porém, seria bem maior se o filme escrito e dirigido por Guto Parente não fosse tão explícito e caricatural ao representar os super-ricos se alimentando dos pobres.

Tudo se passa em torno do dono de uma empresa de segurança (Tavinho Teixeira) e sua esposa devoradora de homens (Ana Luiza Rios, perfeita no papel). Eles têm uma mórbida fantasia erótica com os caseiros contratados. Além disso, ele frequenta um clube semelhante ao de 120 Dias de Sodoma, do Marquês de Sade, que inspirou Pasolini em Salò, mas com um menu de atrações, digamos, mais fatais.

No desenrolar da trama, os milionários cearenses – entre os quais não podia faltar um político – se entredevoram em suspeitas e eliminações. Não há intenções sutis. Todos são exemplarmente sórdidos, arrogantes e hipócritas na forma de agir e de falar. Em discurso num dos sinistros banquetes do clube, o deputado parece repetir falas de alguns parlamentares golpistas na votação da Câmara pelo impeachment de Dilma Rousseff. Em outro momento, um ato de sodomia é tomado como ápice da degeneração por impostores dos bons costumes. Uma faxineira debruçada sobre o vômito de uma grã-fina é mais uma imagem que exorbita os limites da simbologia e chega à overdose.

Posso identificar ali uma proposta de radicalizar os termos da alegoria, tanto no que diz respeito às relações sociais intra e interclasses, quanto na imposição de uma estética do contraste entre luxo e sangue. Ainda assim, achei que o excesso de demonstração reduziu a eficácia da crítica.

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