A ODISSEIA DOS TONTOS

No Brasil, o congelamento dos depósitos bancários e das poupanças pelo Plano Collor, em 1990, ecoaram no cinema em Terra Estrangeira, de Walter Salles. Já o corralito, medida semelhante tomada pelo governo argentino em 2001, chega agora às telas na comédia dramática A ODISSEIA DOS TONTOS (La Odisea de los Giles), de Sebastián Borensztein, autor do igualmente divertido e simpático Um Conto Chinês.

O título brasileiro é redondamente equivocado, já que a tradução adequada para giles seria otários, classificação irônica para pessoas comuns que seguem as normas e acabam se dando mal. Assim são o ex-ídolo de futebol Fermín (Ricardo Darín), o velho anarquista Antonio Fontana (Luis Brandoni) e os que eles conseguem sensibilizar para botar algum dinheiro no projeto de reerguer uma cooperativa agrícola. Eis que, tão logo o montante é depositado no banco, chega o bloqueio do corralito. Não bastasse isso, eles ainda descobrem uma falcatrua que deu outro destino a seu rico dinheirinho.

A partir daí o filme se converte num thriller de assalto ao contrário, no qual o objetivo é recuperar o dinheiro roubado. O grupo volta a se reunir com um complicadíssimo plano de resgate. Será a vingança dos giles contra os hijos de puta, as duas categorias em que, afinal, se divide a Humanidade.

A “odisseia” se vale dos talentos e valores a que estamos acostumados no cinema de entretenimento inteligente feito na Argentina: personagens no limite entre o cômico e o dramático, grandes atores em tipos característicos, diálogos irresistíveis, ritmo de ação envolvente e uso infalível de elementos de gênero. A trilha sonora, com temas que lembram os western-spaghettis e o Danúbio Azul, que liga a Odisseia de Kubrick ao ano de 2001, amplia o campo de referências do filme.