Em entrevista a Marilia Martins, o escritor mexicano Carlos Fuentes estranhou a distância dos brasileiros em relação ao idioma espanhol: “Existe hoje um intercâmbio intenso entre escritores dos países de língua espanhola, e não existe o mesmo com os brasileiros, que ficam isolados no continente latino-americano”. E se perguntava: “Por que os brasileiros não são incentivados a aprender espanhol no curso primário, junto com o português?”.
Eu vivo me perguntando isso. Por que aprendemos desde cedo a língua dominante e não temos nenhum interesse pela língua lateral, que nos cerca por três lados? O resultado é esse isolamento, que muitos latino-americanos percebem como soberba. Por conta disso, à boca pequena, o Brasil costuma ser tachado de autosuficiente cultural ou excessivamente voltado para a cultura americana.
Nos festivais de cinema sul-americanos, é comum ver o gap de comunicação entre brasileiros e os demais. Com poucas exceções, nós acabamos formando guetos de conterrâneos, enquanto argentinos, bolivianos, uruguaios, chilenos e peruanos vivem um clima de interação, discussão e congraçamento. Não só na literatura como no cinema e em todas as áreas, teríamos muito a ganhar com uma integração continental – e me refiro à esfera individual, pois só ela pode injetar legitimidade e abrangência a mecanismos oficiais como o Mercosul.
Por que não implantar o ensino de espanhol desde o primeiro grau, para que os brasileiros cresçam sabendo olhar não só para cima, mas também para os lados?