Caro Eduardo,
É possível que você nunca chegue a ler esta carta. Mas certas cartas podem cumprir bem o seu papel muito antes de chegarem ao destinatário.
Um tanto atrasado, tomei conhecimento há poucos dias do texto-carta que você publicou no blog “questões cinematográficas”, em que condena a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro por ter conduzido um debate em torno do filme À Prova de Morte, de Quentin Tarantino. Como seu blog é fechado a comentários, uso o meu para dividir essa missiva com meus parcos visitantes.
Não me incomoda que você recentemente tenha eleito como alvos os críticos de cinema. Nós, em nossa maioria – na qual naturalmente me incluo –, merecemos mesmo umas boas chicotadas. Restrições pontuais ou mesmo genéricas a um ou outro texto, um ou outro crítico, são bem-vindas e só podem fazer bem à atividade. Mas quando você critica uma associação por ter discutido um determinado filme, seja ele qual for, creio que a razão começa a abandoná-lo.
Tarantino é um cineasta que mobiliza paixões, ganha prêmios, interfere na discussão da cultura contemporânea, goste-se ou não deste ou daquele filme seu. É natural, portanto, que suscite discussões. Repare que até você tem aberto espaços para abordá-lo no seu distinto blog. A matéria de O Globo, por sinal, já antecipava o debate. Por que a ACCRJ haveria de relegar À Prova de Morte (que você insiste em chamar de “À Prova de Fogo”) à prateleira dos inabordáveis? Penso que não há filme que não mereça ser debatido. Ou estarei errado? Se você ou a Thais tivessem comparecido à sessão com seus guarda-chuvas pingando, certamente teriam se divertido e contribuído, junto a uma plateia bem razoável de “almas penadas”, para uma conversa multifacetada e sem preconceitos.
O tal “valor intelectual” que você diz faltar em Tarantino não chega a ser uma categoria clara o suficiente para nortear a escolha de um filme para se debater. Muitas vezes somos levados a discutir, puramente, cinema. E a questão intelectual surge de onde menos se esperava.
Esteja certo de que o convidaremos para o próximo encontro com a ACCRJ, e torço para que o filme escolhido seja merecedor da sua presença. Despeço-me festejando o não-cumprimento do prazo de validade de junho de 2010 que ainda se encontra estampado no “questões cinematográficas”. Vida longa a ele, a você, à Thais e a todos nós.
Um abraço
Carlos
O Escorel agora é deus e juiz de tudo? Eu acho uma porcaria os últimos Tarantinos, escrevi justificando minha opinião no críticos.com.br sobre “Bastardos” e no Festival 2007 sobre “Death Proof” e muito do que escrevi concorda com a avaliação dele, mas pretender dizer que um filme não deveria ser discutido é pretender censurar um debate aberto (onde cada um disse o que quis dizer) é feio. Eu estive lá, a contragosto pelo filme, mas era mais uma oportunidade de falar “contra”. Aliás, não é feio: é ditatorial e cheira a fascismo…
Como dizia Ado Kyrou, todo filme tem no mínimo 30 segundos de interesse…
uma resposta com elegância, o que falta muito aos posts do Sr. Escorel…