Um jorro de simpatia emanou da plateia do Festival de Brasília durante e após a exibição de Amor, Plástico e Barulho, longa da mostra competitiva. O filme de Renata Pinheiro, corroteirizado por seu marido Sérgio Oliveira, faz uma crônica da cena da música brega em Recife. É uma sucessão quase ininterrupta de boas sequências socadinhas de humor, erotismo e insights sobre aquele ambiente em que amor rima com mel e sucesso não rima com esperança.
No centro do filme há um esboço de dramaturgia em torno de duas cantoras do brega: a superestrela Jacqueline Carvalho (Maeve Jenkins) e a “novata” Shelly (Nash Laila). A evolução do relacionamento entre as duas, da admiração à rivalidade e a outros desdobramentos, catalisa os demais elementos. Em boa parte, Amor, Plástico e Barulho é um ensaio etnográfico ficcional disfarçado, repartido em vinhetas deliciosas. O que faz o charme de tudo é a capacidade de síntese, a fuga à descrição óbvia e o talento empregado em cada elemento.
O cinema pernambucano vai mostrando que tem não só uma linguagem particular (este filme tangencia formatos de Cláudio Assis, Marcelo Gomes e Kleber Mendonça Filho) e uma temática obsessiva (o descartável da vida urbana em Recife), mas também um star system próprio, no qual Maeve e Nash são divas e Irandhir Santos é um astro.
Salta aos olhos, no filme de Renata, a visão carinhosa e ao mesmo tempo crítica que lança sobre a cena brega, sem fazer ironias nem alimentar preconceitos. O gosto com que os atores se lançam nos seus personagens chega intacto ao espectador. A cena em que Maeve Jenkins chora cantando Chupa que é de uva foi a primeira a suscitar aplausos durante a projeção aqui em Brasília. Desconfio que este seja um dos maiores favoritos a prêmios na competição de longas de ficção, juntamente com o baiano Depois da Chuva e o paulista Avanti Popolo.
O curta de animação Engole ou Cospervilha, de Marão e mais sete animadores, é uma coletânea de vinhetas criadas a partir do mote “bizarro”. Cada um fez o que quis, mas prevalece um humor ácido e escatológico aparentado ao de Bill Plympton. Eu me diverti bastante, mas houve gente que achou “over”.
Não escrevo sobre o curta de ficção Todos Esses Dias em que sou Estrangeiro, de Eduardo Morotó, porque não pude assisti-lo com a devida atenção.