A segunda edição do FIFE – Festival Internacional de Filmes de Esporte começa nesta quinta-feira no Rio. A edição anterior foi em 2012 e tudo indicava que não haveria continuidade. Mas este ano o evento voltou ampliado de 37 para 70 filmes e de 14 para 20 países representados. Marca importante o distingue do Cinefoot, voltado apenas para o futebol: o FIFE cobre nada menos que 33 modalidades esportivas, do rúgby à capoeira, do boxe ao paraquedismo.
Como parte significativa dos esportes – justamente os mais populares – lida com a bola, nada mais adequado para abrir o certame do que o documentário americano O Quicar da Bola: Como ela Ensinou o Mundo a Jogar (Bounce: How the Ball Taught the World to Play). Do jogo ulama, de raízes astecas, a uma pelada de meninos na Bahia, passando pela alucinada disputa de multidões por the ba’ numa ilha da Escócia, somos apresentados a inúmeras formas de relacionamento lúdico com as bolas. E não só de homens, mas de diversos animais que não resistem ao apelo da redonda.
Bounce é um ensaio de natureza histórica, antropológica, sociológica, psicossocial e neurocientífica a respeito do fascínio ancestral que os animais em geral nutrimos pelas formas esféricas, sobretudo as que rolam e quicam. Lidar com a bola nos ensinou a todos como controlar o imponderável, calcular o imprevisível e compreender o incerto. A bola ajudou a nos dotar da flexibilidade e da capacidade de adaptação necessárias para sobreviver em meio às inseguranças. Brincar está no centro do desenvolvimento de todas as espécies. Jogar é uma forma de criar organização social e espírito colaborativo.
Inspirado em livro do antropólogo John Fox, corroteirista e um dos entrevistados, o filme de Jerome Thélia historia as raízes culturais do futebol bretão e explica as razões profundas por que o futebol americano é tão diferente dele. Envereda, ainda, pelos ramos da mídia e da tecnologia (as bolas virtuais dos games, por exemplo) e por uma fenomenologia do espectador. Além de culto e multidisciplinar, Bounce tem imagens magnetizantes de bolas em todo tipo de ação.
Entre os destaques do FIFE 2015 estão ainda os 24 filmes do projeto brasileiro Memória do Esporte Olímpico e clássicos do gênero como Rocky – um Lutador, Touro Indomável, Carruagens de Fogo, o hitchcockiano O Ringue e A Saga do Judô, de Akira Kurosawa.
A programação se espalha pelo Cine Odeon (cujas más condições de acústica não o recomendam para filmes brasileiros), o Centro Cultural da Justiça Federal e várias bibliotecas-parque e pontos de cultura do estado. Tudo com entrada franca. Na Rocinha serão oferecidas oficinas sobre cinema e esporte. Veja os detalhes no site do festival.