Moretti sem orégano

A carreira recente de Nanni Moretti tem sido irregular, em que pese a condescendência da crítica dominante, sempre pronta a reconhecer-lhe méritos mesmo quando não merece. Mia Madre, festejado em Cannes, pareceu-me um tiro n’água em vários aspectos. Quanto à relação sempre importante entre os filmes e a vida de Moretti, este foi inspirado na perda de sua mãe, há quatro ou cinco anos. Ele usou uma intermediação para falar da sua dor, colocando a atriz Margherita Buy como protagonista, a filha que mais se deixa abater pela proximidade da morte da mãe, ficando ele com o papel discreto do irmão mais racional.

Margherita é, portanto, uma cineasta em crise de tudo. Está rodando um filme sobre a ocupação de uma fábrica pelos operários e recebe um espaventoso ator americano (John Turturro) para fazer o papel de um empresário. A recomendação brechtiana que ela faz aos seus atores (“não entre no personagem, fique ao lado dele”) é algo que ela própria não consegue botar em prática na vida. Explode de estresse e chora por tudo. Apesar da intensidade colocada pela atriz, é uma personagem unidimensional e não evolutiva, que repete o mesmo padrão no filme inteiro.

Moretti procura sintonizar o espectador com as derivas de Margherita através de lembranças, sonhos, devaneios e pequenas alucinações, mas tudo parece vago e ineficaz do ponto de vista emocional, que é claramente almejado. O filme se divide em duas correntes paralelas: o drama dos irmãos perante a inevitabilidade da perda materna e a comédia confiada exclusivamente ao histrionismo de Turturro na pele do ator fanfarrão, vaidoso e de memória deficiente. As duas partes não dialogam nem se complementam. São como água e vinho numa ceia um tanto desenxabida.

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