O ano de 1979 pode não ter nenhum significado especial para a maioria de vocês. Muitos não tinham nem nascido. Foi mesmo um ano esquisito, com Figueiredo, Thatcher e Khomeini chegando ao poder, Carter deprimindo os americanos com seu discurso sobre a “crise de consciência” do país, Pink Floyd lançando “The Wall” e Cacá Diegues estreando “Bye Bye Brasil”. Terapia em grupo, fotos autobiográficas, franqueza sexual na mesa do jantar e discussões sobre o feminismo estavam na moda, enquanto o punk arrombava a porta do rock e cada um precisava se decidir entre Talking Heads e Sex Pistols.
MULHERES DO SÉCULO XX se passa ali naquele limbo histórico. Dorothea (Annette Bening) é uma mulher de 55 anos, ainda ligada em “Casablanca”, e que, mesmo sendo liberal, reage com cara de surpresa a tudo o que descobre em 79. Esta, aliás, é uma das poucas limitações à atuação cativante de Annette. Mãe solteira, Dorothea tem uma relação ora de cumplicidade, ora de confrontação com o filho de 15 anos (Lucas Jade Zumann). Para ajudá-lo a cruzar o pântano da adolescência, engaja duas jovens amigas (Elle Fanning e Greta Gerwick) na educação sentimental do garoto. Fica faltando somente saber como ajudar a si mesma.
Eis um filme que, embora trate o tempo todo de afeto, escapa às obviedades do romance. O que importa é mostrar como indivíduos malogrados e incompletos podem somar-se num arremedo de união e atravessar seus momentos mais difíceis. O roteiro original do diretor Mike Mills, indicado ao Oscar da categoria, se não oferece propriamente uma história, esmera-se na criação de episódios para uma crônica perpicaz e bem-humorada das sensibilidades no período.
Os acontecimentos mais importantes estão no passado e no futuro, como deixa claro a casual e charmosa narração recíproca entre os personagens. Portanto, o que sobressai de verdade e pode nos falar de perto é a qualidade dos diálogos e a forma como os atores os dominam. Assim eles nos transportam para o feeling de uma época e os impasses de gente de carne e osso.