A Cavídeo, dínamo da produção independente carioca, comemora 22 anos com uma mostra de 8 a 14 deste mês no Estação Net Botafogo. Serão exibidos sete novos longas e sete curtas, além da realização de cinco homenagens e vários debates, sempre às 21 horas. No sábado, as crianças contarão com uma sessão infantil às 11 horas.
Na abertura, quinta-feira às 21h, o casal anfitrião apresenta seus mais recentes filhotes: o curta Manifesto de uma Cineasta e o longa Fado Tropical. O curta, dirigido a quatro mãos por Cavi Borges e Patricia Niedermeier, é adaptado de um trecho da peça-filme O Censor, em cartaz numa sala do mesmo complexo. No papel da cineasta radical que afirma sua convicção libertária perante as forças obscurantistas, Patricia integra à tela a performance que costuma fazer no palco diante das imagens de filmes eróticos dirigidos por mulheres. O resultado, como sempre, é de grande beleza.
Fado Tropical fecha a trilogia de filmes de viagem de Cavi e Patricia, iniciada com Salto no Vazio (2017) e Reviver (2019), este também incluído na mostra. Trata-se do mais reflexivo e mais dramático dos três. Patricia e Jorge Caetano, que acumulam o crédito de roteiristas, vivem dois irmãos há muito tempo separados, mas com uma ligação intensa no passado. Ele mora em Lisboa, ela é cineasta e vai a Portugal para mostrar seu novo filme. O reencontro despertará grandes emoções à sombra da lembrança do falecido pai.
É do espírito da trilogia imbricar os argumentos de cada filme com as locações em que se passa. Aqui é Portugal que parece ter inspirado o tema da ancestralidade, dos laços de família, pertencimento e herança que tomam a frente quando a química do parentesco se instala e desequilibra o que está dado como rotina. Para atender a um desejo do pai, Antonio e Isabel (nomes tão lusitanos) viajam ao Cabo da Roca e a Óbidos. Atendendo a seus próprios caprichos, visitam Sintra e alguns pontos de Lisboa, enquanto fazem o balanço de suas memórias, sentimentos e ressentimentos.
Embora tenham momentos de deleite nos passeios e nos encontros com amigos portugueses de Antonio, os dois irmãos vivem principalmente a tensão de coisas que não são ditas completamente, nem mostradas por inteiro. Com um inverno português a açoitar corpos e consciências.
A programação da mostra se estende até o dia 14. Na sexta-feira, eu vou participar de uma conversa após a exibição do documentário Uruguai na Vanguarda, de Marco Antonio Pereira.
A partir de sexta, o calendário é o seguinte:
Sexta, 9 – 21h – Homenagem a Sergio Ricardo, com a exibição do curta inédito Na Rota do Vento – A Música no Cinema de Sérgio Ricardo
Uruguai na Vanguarda, documentário de Marco Antonio Pereira
Sábado, 10 – 11h – Sessão de curtas infantis
21h – Homenagem ao ator Octávio Terceiro com o curta Fausto de Octávio III
Reviver, de Cavi Borges e Patricia Niedermeier
Domingo, 11 – 21h – Homenagem a Patricia Terra, com o longa Semente da Música Brasileira, de Patricia Terra
Segunda, 12 – 21h – Sonho de Rui, de Cavi Borges e Ulisses Mattos
Terça, 13 – 21h – Homenagem a Julio Calasso com o longa Plínio Marcos – Nas Quebradas do Mundaréu, documentário de Julio Calasso
Quarta, 14 – 21h – Homenagem a Sylvio Lanna, com a exibição dos seus novos curtas Um Cinema Caligráfico e In Memoriam – O Roteiro do Gravador
Tragam-me a Cabeça de Carmen M., de Catarina Wallenstein e Felipe Bragança