Mostra de SP: Cavalos Roubados

A dor lescência

Um viúvo deprimido, um inverno coberto de neve e um rosário de memórias. CAVALOS ROUBADOS (Ut og Stjæle Hester) é aquele tipo de filme nórdico introspectivo, em que tudo é dito por vias indiretas e a Natureza disputa a primazia da história com os personagens. Na virada para o ano 2000, Trond (Stellan Skarsgård) procura isolar-se numa casa no campo após a morte da mulher, mas o encontro com um vizinho lhe desperta lembranças de um momento crucial da adolescência.

Em 1948, ele passava férias numa floresta com o pai, que trabalhava como madeireiro. Uma sucessão de flashbacks desvenda aos poucos as experiências de formação do caráter de Trond na relação complexa com o pai, na amizade com outro garoto e na atração que sente por uma mulher mais velha. Nesse passado mais luminoso, os animais, a madeira e o rio assumem funções metafóricas quanto à passagem de Trond para a vida adulta. Influência importante é também a leitura de David Copperfield, de Dickens, que o instiga a perguntar-se quem seria o herói da sua vida.

O filme de Hans Petter Moland (O Cidadão do Ano) se distingue mais pela belíssima fotografia premiada em Berlim, que confere lirismo e sensorialidade às memórias de Trond, e pela sóbria atuação do elenco do que pelo entrecho romanesco baseado no livro de Per Petterson. As tragédias, o ciúme e o sofrimento do menino ecoam de maneira pouco clara na personalidade do adulto, cujo papel acaba sendo o de mera moldura para o retorno ao passado. Um filme bonito e clássico, mas que parece manter sua alma escondida em subtextos obscuros.

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