Syllvio Luccio não é um homem qualquer. Na verdade, é uma mulher que vive como homem. De feminino, só tem a voz e a anatomia genital (ainda). De resto, é alguém que adora “falar de mulher” e entrar nos bares botando banca de macho cearense. Uma pessoa culta e articulada, que já foi ativista do MR-8, mas não recalca seu lado “brega e caipira”. Uma figura, sem dúvida, interessante. Kiko Goifman e Claudia Priscila deixam que ele narre a si mesmo em Olhe para Mim de Novo. Se isso confere personalidade ao filme, também gera certa limitação, já que pouco se agrega ou contrasta com a autoimagem do personagem.
Syllvio se dá a ver durante uma viagem por diversas cidades nordestinas, a caminho de um aguardado encontro familiar que vai ocupar a última (e ótima) cena. A ideia, ao que parece, era usar esse percurso para documentar outros casos de transgressão ou problematização de gênero na paisagem humana do Nordeste. Assim, Syllvio conversa com gays na rua, paquera na Feira de Caruaru e visita portadores de deficiência física e ambivalência sexual. O recurso, porém, não resulta dos mais produtivos para além da exposição do exótico, muito embora o tratamento seja sempre respeitoso e solidário.
Como trabalho da dupla (e casal) Kiko-Claudia, é menos inventivo que outros anteriores, mas alinha-se a suas investigações estéticas na área da identidade genética (como 33) e de personalidades menos convencionais (como a série de TV HiperReal).