Nostra Itália

Começa hoje (segunda) à noite no Arquivo Nacional a densa programação do Recine – Festival Internacional de Cinema de Arquivo (veja o site). Em sua décima edição, o Recine festeja as relações cinematográficas entre Brasil e Itália. Por conta disso haverá uma retrospectiva com quase 200 filmes (brasileiros e italianos), um ciclo de debates e o lançamento de uma revista temática. E ainda a mostra competitiva para filmes recentes que tenham utilização considerável de material de arquivo. Da competição participam também os dez curtas realizados pelos alunos da oficina ministrada por Luiz Carlos Lacerda, todos motivados pelo lema “Dov’è l’Italia?”. O júri será integrado por Lucia Murat, Eduardo Escorel, Vladimir Carvalho, Mauricio Lissovsky e eu.

Como jurado, vou deixar para me manifestar mais tarde sobre os filmes da competição. Por ora, e a propósito do tema desta edição, cabe lembrar que os italianos tiveram grande influência no cinema brasileiro em três momentos. O primeiro foi o primeiro mesmo, quando imigrantes envolvidos com o comércio de entretenimento dominaram a implantação do cinema no país. Os Irmãos Segreto continuam reverenciados como pioneiros na filmagem em terras brasileiras. Depois vieram produtores/realizadores como Vittorio Capellaro (autor das primeiras adaptações literárias no Brasil), Paolo Benedetti, Gilberto Rossi (pioneiro dos cinejornais)e Pedro Comelo (que montou um laboratório em Cataguases e favoreceu o surgimento de Humberto Mauro).

Um segundo momento dessa liga Brasil-Itália se deu à época de ouro dos estúdios paulistas, nos anos 1940. A Vera Cruz de Zampari e dos Matarazzo importou diversos realizadores e técnicos com o objetivo de dar um upgrade na qualidade do filme brasileiro. Entre eles, Adolfo Celli, Luciano Salce, Ruggero Jacobi, Flaminio Bollini Cerri e Ugo Lombardi. Na mesma época, Mario Civelli veio ao Brasil e por aqui ficou, fundando a produtora Maristela.

A onda mais recente rolou entre os anos 1950 e 60. As influências neorrealistas de Rosselini, De Sica e Zavattini mexeram com a cabeça dos cineastas brasileiros e geraram clássicos como Rio 40 Graus e O Grande Momento. Pouco depois, diretores como Paulo César Saraceni, Gustavo Dahl, Trigueirinho Neto  e Glauber Rocha estudaram no Centro Sperimentale della Cinematografia, em Roma, e formaram uma rede de amizade e colaboração com Bertolucci, Bellocchio, Gianni Amico e críticos italianos.

Leia mais sobre o assunto no depoimento do pesquisador Jurandyr Noronha, colhido por Clóvis Molinari para o site do Recine.

Ultimamente, as relações entre os dois países na área do audiovisual são muito tênues. O próprio cinema italiano está longe de ocupar o espaço cultural que teve em décadas passadas. Os laços se diluíram bastante. Desde os anos 1970 existe um acordo de co-produção entre os dois países, renegociado em 2008. Por conta disso, houve algumas co-produções como Estômago, do brasileiro Marcos Jorge, Birdwatchers, do italiano Marco Bechis, e haverá o próximo filme de Vicente Ferraz, A Montanha, que terá participações de Brasil, Itália e Portugal. De resto, ficamos com as telenovelas italianadas como Terra Nostra e pouco mais.

Numa chave mais festiva que de fomento, os governos brasileiro e italiano estão empenhados em estreitar os laços entre os dois países através do Momento Itália-Brasil, uma série de mais de 200 eventos previstos para ocorrer até junho do ano que vem em 11 cidades brasileiras. O calendário inclui exposições, espetáculos de teatro e dança, shows musicais e mostras de cinema. O Recine 2011, por exemplo.

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