Como se não bastasse ser um espetáculo da Bia Lessa, nossa mais inventiva, corajosa e persistente encenadora, dou aqui sete razões para não se perder GRANDE SERTÃO: VEREDAS, em cartaz até 31 de março no CCBB-Rio:
1. A compreensão e justo protagonismo do texto de Guimarães Rosa, escutado bem pertinho através dos fones de ouvido. Toda a graça, a surpresa e a potência da dicção roseana nos chegam intactas, sem perda ou enfeite.
2. O ritmo incessante e energético da cena, com o elenco em peso no palco durante toda a peça. As guerras, os pactos, o amor, os pensamentos soltos no vento quente, a vida no agreste, tudo se exalta e se faz épico.
3. As atuações a um só tempo impetuosas e interiorizadas dos atores, com especial destaque para Caio Blat (Riobaldo) e Luisa Arraes (a prostituta menina Nhorinha e Riobaldo jovem). Esses dois parecem somar quinhentos no palco, tais são a gana e a polivalência com que falam e se movem no espaço cênico. Dizem as coisas como quem arranca um mandacaru do peito e o lambe até matar a sede.
4. A ideia linda de fazer os atores representarem quase tudo o que há para mostrar, incluindo bois, aves, insetos, plantas, peixes, sapos.
5. A trilha musical de Egberto Gismonti e a ambientação sonora sertaneja intervindo incessantemente em nossos ouvidos e nos sintonizando com o mundo grande que fica por trás da palavras.
6. A fidelidade à contação deslinhavada de Rosa, com avanços e recuos no tempo segundo o jorro de pensamentos e memórias do jagunço Riobaldo. Isso produz cortes e retomadas próximas à montagem cinematográfica, impressão reforçada pela aplicação da trilha sonora.
7. O espaço heterodoxo da encenação, entre canos e barras de um andaime-arquibancada. Além de solicitar do espectador um constante ajuste do campo visual, combatendo a passividade do olhar, essa opção remete ao inacabado de que fala Rosa. “O homem não está pronto, está sendo terminado”.
(Fotos: Marcio Pilot)