CYRANO no streaming
Desde uma primeira adaptação em 1923, Cyrano de Bergerac tem sido interpretado no cinema por atores característicos como José Ferrer, Christopher Plummer e Gérard Depardieu, comediantes como Steve Martin e cantores de ópera como Placido Domingo e Roberto Alagna. Agora chegou a vez da caracterização mais radical, que troca o nariz grande pelo nanismo. Em Cyrano, de Joe Wright, o personagem é vivido pelo ator Peter Dinklage, um anão.
Esta é uma versão adaptada aos tempos de valorização da diversidade. Christian, por quem Roxanne (Haley Bennett) se apaixona pensando que são dele as cartas escritas por Cyrano, é um negro (Kelvin Harrison Jr.). São opções supostamente corajosas, mas que pouco contribuem para um aggiornamento do original de Edmond Rostand, uma vez que o padrão trazido da peça musical é dos mais conservadores.
Cyrano de Bergerac é um libelo em favor do poder da poesia, da palavra bem achada como motivo de encantamento e de sedução. É também um drama sobre impostura, vaidade, ilusão, orgulho e renúncia. O filme começa com uma disputa de egos entre Cyrano e o afetadíssimo Valvert (Joshua James). Prossegue com demonstrações estapafúrdias da perícia de Cyrano com as armas, algo típico de um super-herói. A primeira metade é um estardalhaço ruidoso de músicas medíocres, coreografias cafonas, maquiagens excessivas e figurinos pouco inspirados.
A segunda metade, embora ganhe certa consistência, é interrompida por uma grande “barriga” na sequência da guerra, antes de caminhar para um grand finale dos mais bregas que vi ultimamente. A seu favor, Cyrano tem a bela voz de Peter Dinklage e a acepção um tanto erótica da paixão de Roxanne no número “I Need More”.
De resto, é um espetáculo que pode encher as vistas de quem espera florilégios e exageros de um drama de época. Mas, apesar do negro e do anão, Cyrano ficou muito aquém do que se espera para a nossa época.
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