Cotidiano tecnologizado, acesso imediato à informação, explosão das redes sociais… E a gente não consegue mais sair da frente do computador (ou desligar o celular). O grande desafio que se apresenta é: como selecionar?
Desde que entrei no Twitter, senti a necessidade ainda maior de não sucumbir à avalanche da hipercomunicação. Para isso, vou consolidando aos poucos uma decisão: fugir da microvida e da metavida.
A microvida é aquela dos eventos banais do dia-a-dia. Por exemplo, não sigo quem usa o Twitter principalmente para dizer que acordou mal-humorado ou que acabou de comprar um melancia deliciosa na feira. Por mais amigo que seja, e mesmo que esteja me seguindo, não sigo. Ninguém precisa saber essas coisas. Se da minha microvida até eu mesmo procuro escapar, imagina da microvida dos outros.
Já a metavida é aquele tempo enorme que, cada vez mais, dedicamos à própria tecnologia como um fim em si. Fico besta de ver a quantidade de mensagens que rolam no Twitter sobre as maravilhas do próprio Twitter, de como ele vai melhorar sua vida e mantê-lo em contato com o mundo inteiro de uma vez só. Acho que o Twitter é o principal assunto do Twitter, o que não me interessa nem um pouco.
Se bobearmos, o espaço dedicado à metavida vai crescer tanto a ponto de a confundirmos com nossa vida de verdade. A internet é um canal, não o destino. Digo isso a mim mesmo. E ponho aqui no blog.
Agora vou correr pra botar no Twitter…
P.S. E ainda tem a pseudovida. Artur Xexéo caiu no conto do Twitter falso, esculachando Narcisa Tamborindeguy mediante a tuitagem de um impostor que se inscreveu em seu nome. Eu mesmo já topei com Twitters suspeitos, quando não visivelmente apócrifos, como vários criados em nome do Presidente Lula só para achincalhá-lo.
Não li no jornal, mas copiei do blog de Maria Helena R. R. de Souza um trecho da entrevista de Saramago.
Pergutna: “O senhor acompanha o fenômeno do Twitter, já pensou em abrir uma conta no site?”
Reposta: “Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”.
Saramago já “desceu” até o blog. Mais um pouquinho e ele chega ao twitter.
Ah! E concordo: microvida e metavida são termos sensacionais!
Foi o que conversamos, na semana passada: essa ferramenta está se apresentando. Pode ser o triunfo do torpedo ou um neto do telex, mas ainda esta num forte hype. Com o tempo pode se mostrar um instrumento bastante útil, ou apenas uma febre passageira. Veremos.
Mas os perfis falsos, nessas máquinas de relacionamentos virtuais, não deixam de ser divertidos. Colocam em questão o próprio conceito de identidade no séc.XXI. A pessoa acha que está “twitando” o Bill Gates, e, na verdade acaba sendo o “Seu Nestor”, o vendedor de rosquinhas de fubá de Realengo (será o Seu Nestor, igualmente, um perfil falso?). O engraçado vai ser se os comentários dele forem mais relevantes que os do Bill. Ah! Os tempos velozes…
Twittar é preciso? Viver é preciso! :o)
Abraços
Selecionar é a questão. Selecionar livros, filmes, amizades, amores, relacionamentos virtuais. Mas estaremos mesmo sendo capazes de exercer a capacidade de seleção. Ou, mesmo sem perceber, estamos sendo arrastados pela avalanche? Dúvidas, amigos.
Carlinhos,
Ainda não iniciei a fase Twitter. Primeiro estou esperando entender porque estou no Facebook e esse seu post me fez encontrar algumas peças do quebra-cabeça.
Do facebook posso dizer que, entre outras coisas, é um espaço destinado ao exibicionismo e à bajulação. são pessoas que pensam iguais, falam as mesmas coisas e ficam “curtindo” umas às outras sem parar. Chega a ser cômico.
Dois exemplos. Uma pessoa famosa diz “ah…” e 48 pessoas respondem. Uma pessoa ninguém (meu tom de preconceito é intencional) cria algo novo, tal como “À mulher de César não basta ser honesta…tem de parecer honesta!”, e só ela mesma fica lendo e “curtindo” essa pérola (só “curtir” é uma opção do Facebook.
Então, estou caminhando à conclusão que chegará o dia em que cada um falará só e somente só consigo mesmo nessas comunidades virtuais.
Mas, voltando ao seu post, se eu soubesse como, correria no Wikipédia e criaria dois novos verbetes: microvida e metavida são conceitos filosóficos geniais.
O twitter tem pelo menos a vantagem de não induzir tanto a essas paparicações recíprocas. Você põe a micromensagem lá e lê quem quiser (seus seguidores). Além disso, você não é obrigado a seguir as pessoas que o seguem. Nas “amizades” do Facebook a coisa é sempre recíproca, me parece.