Ontem (terça) foi meu dia de Glória Pires. Pela manhã, a vi carregar nas costas o melodrama de Lula, o Filho do Brasil. Suas aparições são breves em relação aos outros personagens, mas cada vez que Dona Lindu entra em cena, é como se ligasse a corrente elétrica do filme. Poucas palavras, muitos olhares e uma inteireza cênica que nada pode abalar.
À noite, Glória era outra mulher na pele de Baby, a paulistana solitária de É Proibido Fumar. Quase o tempo todo no quadro, ela mais uma vez me fazia esquecer a diferença entre atriz e personagem. Só Glória e Fernanda Montenegro são capazes de se despir de todo estrelismo com tal propriedade. Não há qualquer resquício de pose, “técnica” ou “composição” na maneira como Glória encarna essas duas mulheres do povo – uma mãe-coragem sertaneja e uma urbanoide compulsiva.
Não que a atriz seja a única virtude dos dois filmes. Bem ao contrário, ambos são belas realizações nos seus respectivos gêneros. Trabalhos de direção praticamente impecáveis, fotografias perfeitas para cada tipo de história, montagens precisas, elencos competentes. O roteiro de É Proibido Fumar é especialmente primoroso, com diálogos entre os melhores do cinema brasileiro recente.
Mas Glória, cá entre nós, é o fio-terra que mantém os motores afetivos em funcionamento. A comédia romântica de Anna Muylaert é tudo de bom: inteligente, divertida, amoral – e romântica de uma maneira inesperada. Merece muito mais sucesso do que talvez venha a ter, mesmo com todos os prêmios de Brasília. Mais que isso, merece correr mundo pela universalidade e qualidade.
Lula, o Filho do Brasil será com certeza o grande blockbuster do cinema brasileiro em 2010. Os Barreto meteram o pé na jaca do melodrama épico, capricharam em tudo e Fábio fez seu melhor filme desde O Quatrilho. Isso pode não significar grande coisa depois de sucessivos fracassos, mas também pode relançar sua carreira e reanimar quem não acreditava mais nele.
Já se falou e ainda vamos falar muito do “filme do Lula”. Mas, por ora, o brinde é para esses dias de Glória no cinema brasileiro.
Incopatibilidade de gênios… Ou de gens ! Até em gêmeos…
Provado está que nem todo clone é cópia xerox… E viva a diferença ! E as diferenças !
Geralmente a Glória Pires me surpreende favoravelmente nos filmes, mas tanto ela neste “Proibido Fumar” como o próprio filme me decepcionaram. O filme não encontra o tom da virada do roteiro e a Glória não podia mesmo fazer milagre. E não sei quem é mais chato: se o personagem masculino ou o ator. Pena. Já sei: pior para mim, que não curti, né? Mas não gostei mesmo.
Rolou incompatibilidade, hein Gallego? Eu curti muitíssimo. Não me lembro de outra comédia romântica tão boa no cinema brasileiro.
muito curiosa sobre o filme de Lula… tem tudo pra ser o blockbuster mesmo!