A guerra na intimidade

Entre os concorrentes ao Oscar de longa documental este ano, pode-se dizer que Trabalho Interno falava de perto com quem se interessa por economia e política; Lixo Extraordinário tinha apelo para os que colocam o humanismo em primeiro lugar; Exit Through the Gift Shop era o preferido dos conectados com as questões da arte contemporânea; Gasland se dirigia aos preocupados com o meio-ambiente; e Restrepo encantava quem aprecia os documentários, ponto.

O filme vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance de 2010 começa a ser exibido em pré-estreias no Rio e em São Paulo. Abaixo, o que escrevi por ocasião do último Festival do Rio:

     

Belisque-se de vez em quando durante a projeção de Restrepo. Belisque-se para lembrar que não está vendo um filme de ficção, desses que simulam o fragor dos combates e a tensão dos soldados. Os diretores (e cameramen) Tim Hetherington e Sebastian Junger estiveram “incorporados” (embedded) durante um ano com um jovem pelotão no Vale Korengal, o mais perigoso teatro de operações da guerra do Afeganistão, em 2007-2008. O que eles recolheram é, talvez, o retrato documental mais intimista de uma guerra jamais produzido pelo cinema.

Restrepo mostra de perto a matéria das guerras modernas. Estão lá os combates encarniçados, tiros zunindo rente aos microfones, a câmera dividida entre registrar os tiroteios e proteger-se das balas talibãs. Mas lá está também a rotina não menos desgastante da observação do inimigo, das miúdas investigações ao redor do posto avançado, das tentativas de persuasão, das difíceis relações com os afegãos num contexto de abismo cultural irremediável. As “shuras”, reuniões semanais dos soldados com os anciãos do Korengal, fornecem um insight inestimável desse lado menos espetacular do conflito, mas igualmente decisivo.

Lado a lado com os momentos de descontração e camaradagem dos jovens marines estão cenas de enorme dramaticidade, como o impacto imediato da morte de um sargento sobre o grupo. Ou a revelação do resultado de um bombardeio que deixou civis mortos em suas camas. Curtos depoimentos dos soldados durante e depois da ação comentam o dia-a-dia do pelotão e projetam uma reflexão isenta de proselitismos pacifistas ou discursos prontos sobre o Afeganistão. Restrepo recupera e examina a guerra como pura experiência moral e emocional vivida por garotos que poderiam ser nossos parentes e vizinhos.

P.S. Bom carnaval pra vocês e até depois das cinzas.

3 comentários sobre “A guerra na intimidade

  1. Thereza e Carlos
    As guerras no Afganistão e Iraque (somente falta o Irã) são mais uma forma do IMPÉRIO(leia-se EUA) matar civis e inocentes nestes países para dar uma satisfação ao povo americano. O famoso eixo do mal(dito por Bush, o açougueiro e alcoólatra), corroborado agora por Obama. Tudo isto por causa do Bin Laden, que era sócio do Bush, e dos inocentes 3000 americanos mortos no World Trade Center. Lembra-se dos 500 mil americanos fugindo do Vietnã como ratos? Foi o povo americano que os trouxe para salvar os seus entes queridos: maridos, filhos, filhas, pais, mães, irmãos,etc.
    Quando Obama teve o desplante de aceitar o Premio Nobel da Paz eu disse perplexo: “como estes caras vão dar o Nobel da Paz a um guerreiro?”. Saudações democráticas, como diria Odorico Paraguassu.

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