Para Sempre Silvio

Para Sempre Silvio começa desconstruindo a mãe de Silvio Berlusconi para depois desconstruir o filho. Mãe e filho facilitam muito esse trabalho pelo que fornecem de matéria-prima à mídia. Roberto Faenza e Filippo Macelloni apenas coletaram e montaram esse acervo numa colagem que, como observou Nelson Hoineff, tem estilo semelhante ao das campanhas eleitorais. O cinismo de Berlusconi, sua fanfarronice megalômana, sua grosseria social encontram livre trânsito na consciência (dele) de que os italianos, afinal, se parecem com ele e por isso o aprovam e elegem.

Se o personagem é uma fraude permanente, em contrapartida há uma desonestidade fundamental nesse tipo de documentário: cenas inseridas fora de contexto, agenciamento de material de arquivo por mera aproximação temática ou visual, declarações impressas faladas por um ator. O filme se apresenta como uma autobiografia não autorizada, embora inclua performances críticas a respeito de Berlusconi (as melhores são de Roberto Benigni) e reportagens como a do veterano cineasta e jornalista Ugo Gregoretti sobre o mausoléu de faraó que Il Cavaliere encomendou para o caso de morrer um dia.

A gente se diverte e se espanta com essa bricolagem de uma personalidade excêntrica. Aprende até mesmo que a culpa pelo estado atual da Itália pode ser do relógio que Berlusconi ganhou de seu pai no leito de morte. Chega um ponto, porém, em que o filme parece se contaminar do mesmo clima fanfarrão que pretende denunciar. O foco se perde, e a cultura da diluição que Berlusconi implantou através da TV revela seu poder até mesmo sobre quem se dispõe a combatê-la.

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