Mais algumas notas irresponsáveis sobre filmes que tenho colocado nas redes sociais:
O argumento de PARAÍSOS ARTIFICIAIS não me interessou nem um pouco, assim como os personagens e suas questões. Eles me pareceram funcionais demais, sem muita vida para além do esqueleto da trama. Não me convenceram como pessoas, se é que me faço entender. Não gosto dos diálogos e de alguns estereótipos: o guru das drogas, a mensagem “play me”, o enguiço do ônibus naquele paraíso, etc. No entanto, respeito o filme por uma simples razão: toda a linguagem se presta a exprimir o seu sentido. Ou melhor, é na linguagem mesmo que o filme se realiza. Como luz, cor, ritmo, sensualidade. Vejo-o como um filme sobre superfícies – não é à toa que dois personagens afundam abaixo da tona e morrem. A superfície lustrosa e sensual da experiência: drogas, sexo, morte. E exprimir sensações de superfície é uma proeza relativamente rara no cinema brasileiro.
Os críticos no mundo inteiro têm feito um bocado de contorcionismo para sustentar os elogios a MINHA FELICIDADE e contornar as evidentes armadilhas narrativas e temporais do filme. Para mim, aquilo soou como um sucedâneo do “Não Matarás” do Kieslowski, temperado por um grande ressentimento de Sergei Loznitsa com sua Bielorrússia natal. Um beco sem saída metafórico povoado por bons e maus, sendo ambos capazes de matar. A melhor cena é quando o caminhoneiro se perde numa espécie de mercado, entre mil rostos filmados à revelia e randomicamente. O homem com destino certo para sua carga é engolido pelo caos, do qual não mais conseguirá sair. A desordem do mundo não tem remissão. Nada é capaz de se salvar. Tudo é escuridão e terra jogada por cima. Tá bem, Loznitsa, mas o que é que a gente faz com isso?
Há duas maneiras de entrar no DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO. Se considerarmos que aquilo se refere a Hunter S. Thompson, será uma decepção. O canastrinho Johnny Depp não passa nada do “gonzo journalist”. É mero coadjuvante entre personagens caricatos numa Porto Rico de fancaria. A súbita tomada de consciência crítica aos 35 do segundo tempo não convence porque não teve preparação dramatúrgica. Mas se esquecermos Thompson, até que dá pra curtir como uma comédia maluca, com algumas falas muito espirituosas e algumas cenas cômicas que funcionam na base da maluquice mesmo. Aí até o “distanciamento” cafajeste de Johnny Depp faz sentido.