Cinema Novíssimo, Jovem Cinema Brasileiro, Cinema de Garagem… Seja qual for o nome, o fato é que desde o Cinema Novo não víamos uma floração de filmes e pensamento crítico interligados como esta recente. Digo recente porque o momento culminante do movimento parece ter passado, concentrando-se principalmente nas temporadas de 2009 a 2011. É hora, portanto, de fazer balanços e averiguar índices de permanência.
Esse deverá ser um dos focos da Mostra Cinema de Garagem, que abre hoje na Caixa Cultural RJ. O nome vem do livro de Marcelo Ikeda e Dellani Lima, também curadores da mostra. No volume editado pelos próprios autores, também no modo garagem, eles fizeram um diagnóstico das origens e das marcas principais de um cinema brasileiro feito na base do esforço coletivo, do intercâmbio regional e da experimentação.
Em algum artigo por aí eu já tinha ensaiado uma definição:
“Um modo de criação e produção, assim como um sistema de recepção crítica, que quer se pautar pela afetividade entre seus integrantes. Sob o signo do gregarismo, diretores, produtores, técnicos e atores de variada geografia se associam em colmeias para fazer filmes de maneira quase angelical, sem pretender o mainstream, nem o circuito “de arte”, nem qualquer proposição política institucional. A ideia de política, aliás, é frequentemente empurrada para as bordas nos momentos de debate, sendo tomada mais como regime de escolhas estéticas ou como articulação de relações no nível do cotidiano.”
É claro que você vai encontrar definições e compreensões diferentes a cada interlocutor. O fato é que esse “jovem cinema brasileiro” (esta a denominação que prefiro) suscita curiosidade e muita discussão. Prova de que a mostra não quer somente exibir os 25 longas e 44 curtas selecionados, mas principalmente discutir esse momento, é que já na abertura, hoje às 19h30, vai haver um debate com os curadores.
Outros cinco debates virão (veja a programação no site da mostra). Participo de um deles, no dia 2 de agosto às 19h30, juntamente com Alexandre Veras, Eduardo Valente e Ricardo Pretti. Nosso mote será “O que há de novo? Em busca de definições para o cenário de renovação do cinema brasileiro contemporâneo”. Haverá ainda cinco sessões comentadas pelos diretores dos respectivos filmes.
A seleção de títulos inclui, naturalmente, alguns grandes destaques, como Estrada pra Ythaca, O Céu sobre os Ombros, Avenida Brasília Formosa, Morro do Céu, A Fuga da Mulher Gorila e “pioneiros” como Acidente, Aboio, As Vilas Volantes e Sábado à Noite. A mostra não quer ser um panorama do cinema brasileiro contemporâneo. Não pretende nem mesmo cobrir os vários campos de inovação que se pode detectar na ficção, no documentário ou nas formas híbridas. Ikeda e Lima propõem um recorte pessoal, afetivo, pautado por processos de admiração e identificação. OK, vamos lá discutir isso também.