Guida ↑
A festa tem ficado um tanto restrita à própria tribo, mas o cinema de animação brasileiro já está a merecer uma celebração bem mais ampla. Desde que o curta Meow, de Marcos Magalhães, ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, no distante 1982, o Brasil não recebia distinções tão grandes quanto nos últimos três anos. E elas têm vindo do mais antigo e respeitado festival de animação do mundo, o de Annecy, na França.
Em 2013, Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognesi, faturou o Cristal de melhor longa, o prêmio mais importante do festival. No ano seguinte, O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, repetiu o feito. Este ano foi a vez de Rosana Urbes, com seu curta Guida, trazer o Prêmio “Jean-Luc Xiberras” de primeiro filme e uma menção honrosa da crítica internacional (Fipresci). O filme já havia recebido cinco prêmios no último Anima Mundi, incluindo o de melhor curta.
Guida tem 11 minutos e foi realizado na técnica mais básica da animação, que é o desenho sobre papel. A sinopse define o filme como “uma reflexão lúdica e nostálgica sobre a vida na terceira idade em São Paulo, a arte como agente transformador e o conceito do belo. A personagem-título, uma doce senhora que há 29 anos trabalha como arquivista no Fórum João Mendes Jr., tem sua rotina entediante modificada quando decide posar como modelo vivo em um centro cultural da metrópole. Através da sensibilidade criativa de Guida, o filme apresenta um ensaio sobre o processo de retomada da inspiração artística”.
Veja um trailer de Guida:
Annecy é um evento mais conectado à animação como arte do que como indústria e comércio. Daí o êxito recente desses filmes brasileiros que se inserem nas tradições da animação europeia, canadense e latino-americana, em vez da linhagem americana. Mas enquanto isso, o público brasileiro vai sendo entretido pelo último filme da Pixar/Disney.
Divertida Mente (Inside Out) traz, sem dúvida, uma grande ideia para um filme de animação. O problema é que essa ideia é a única que o filme tem – e precisa espichá-la por 94 minutos, dando lugar a inevitáveis “barrigas” e a uma hiperatividade forçada para manter o público infantil acordado na sala. A montanha russa emocional de uma menina entrando na pré-adolescência é, digamos assim, vista por dentro. As distintas emoções ganham status de personagens numa disputa acirrada pelo estado de espírito, as memórias, enfim, a formação da pequena Rilley.
Isso vem dando margem tanto a elogios exacerbados da crítica industrial quanto a classificações de “auto-ajuda para crianças”. Mas há boas sacadas, como a representação das ilhas de personalidade, do subconsciente assustador e do apagamento de memórias que permite a todos nós superarmos cada fase da vida. Eis um filme que consegue ser, ao mesmo tempo, agudo e sentimentaloide, sofisticado e boboca, original e déja vu.