A gente não para de aprender com esses tais documentários. Vendo VIDA DE RAINHA (que abriu semana passada um festival no Rio) aprendi que as drag queens brasileiras se dividem em categorias bem definidas, incluindo transformistas, divas, caricatas, palhaças, bate-cabelo, góticas, aliens e por aí afora. O longa de Luciana Avellar, experiente fotógrafa de moda, enfoca esse pequeno vasto mundo das drags de performance em seu trânsito por festas, palcos, camarins e carros através do Rio de Janeiro, principalmente na Lapa e nos subúrbios. Lorna Washington, Vick Diamond, Desireé, Meime dos Brilhos, Lorde Talente, Samara Rios e outras comentam a dura rotina de rainha, o enfrentamento de preconceitos e a luta por serem tratadas com o respeito que artistas merecem.
Não há interesse pela vida privada, nem um trabalho de pesquisa que apoie as considerações sobre a evolução das drags na cena carioca. Assim, o filme se limita a colher falas e performances, sendo que – dada a natureza das personagens – nunca se pode distinguir uma coisa de outra. O filme mostra também como elas se constituem em comunidades formais ou informais, físicas ou virtuais.
A edição de imagens e de som às vezes parece tosca, pouco superando a condição de vídeo doméstico caprichado. Mesmo com limitações de técnica e de concepção, VIDA DE RAINHA interessa pela sua, digamos, matéria-prima. As estrelas são loquazes, francas e muito divertidas. De maneira geral, não aspiram a “ser mulher”, mas a “estar mulher” no palco. Logo, montar-se é tão importante quanto desmontar-se. A televisiva Samara Rios, por exemplo, confessa que seu maior medo é “morrer montada” e ver São Pedro mandá-la descer porque bateu em porta errada. O caráter espirituoso das drags fica bem representado nesse filme-homenagem. E a apresentação do duo de covers Gal e Bethania é de lacrar.
Depois de ver PORTA DOS FUNDOS – CONTRATO VITALÍCIO, fiz o seguinte balanço:
– Dei 11 risadas e 18 risos amarelos
– Ouvi 9 palavrões necessários à trama e 377 absolutamente supérfluos
– Contei 44 menções a estrelas globais e 39 a artistas e produtos de que jamais tinha ouvido falar
– Vi 53 cenas bem dirigidas, 12 mal dirigidas e 21 que não sei dizer se eram boas ou boas merdas
– Computei 8 piadas originais, 30 requentadas e 25 podres de velhas
– Curti a melhor sátira a preparadores de elenco já feita sem preparador de elenco
– Dos 106 minutos de filme, durante 105 eu tive a impressão de que o Porta dos Fundos quer sair do Youtube para entrar na Globo.
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