Críticos internacionais têm comparado os últimos filmes de Terrence Malick a comerciais de perfume. A estética do antigo mestre tem mesmo descambado para os maneirismos esteticistas e uma vacuidade repleta de pretensão. Mas o que acontece com DE CANÇÃO PARA CANÇÃO é ainda pior. Malick deixou o vidro de perfume aberto, e o aroma vai evaporando rapidamente ao longo dos 128 minutos de projeção.
Posso repetir, palavra por palavra, o que disse sobre o anterior Cavaleiro de Copas, que nem chegou a ser lançado em cinemas por aqui: “Lá estão as tomadas inclinadas em direção ao céu, o sol de fim de tarde fazendo refrações na lente, as distorções de perspectiva e a errância espacial que caracterizam seu estilo desde ‘A Árvore da Vida’ e já se tornaram por demais enjoativos”. O estilo é o mesmo, a montagem continua abruptamente descontínua, levando os personagens a flanar por apartamentos incríveis, coberturas incríveis, mansões incríveis, piscinas incríveis, tudo habitado por mulheres incríveis. Um filme perdulário, diletante e fastidioso como uma loja de perfumes alagada até o teto. Dê dinheiro demais para um cineasta experimental, e eis o resultado.
Michael Fassbender (mefistofélico), Ryan Gosling (faustiano), Rooney Mara, Natalie Portman e Cate Blanchett circulam numa ciranda de encontros, seduções e traições contra o fundo da cena roqueira do Texas. A impressão é de que Malic (o nome dele começa a evaporar também aqui) quer fazer um filme pornô mas não tem coragem de ir aos finalmentes. Faz apenas os prolegômenos e o “depois”, com os amantes geralmente caindo num “bode” fenomenal, ainda que sem nunca perder a pose de celebridades cool.
Na verdade, Mali parece mais interessado em arquitetura e um pouco de dança, tal é a quantidade de casas extravagantes e de cenas em que os atores ensaiam alguma coreografia de brincadeira. Um clima de improvisação brincalhona frequentemente se impõe sobre a rala dramaturgia. Rooney, Ryan e Michael parecem se divertir um bocado diante da câmera enquanto eu bocejava diante da tela. Mas logo Mal retoma o texto básico, pretensamente grave, das ruminações existenciais fragmentadas em retalhos de diálogos e murmúrios interiores. Todo mundo gostaria de “deitar e rolar” na vida doce do sucesso e da riqueza, mas, oh Deus!, o amor complica tudo, e “brincar com a chama da vida” traz perigos demais. Afinal, é tão difícil ser feliz na abundância…
Eis um filme em que os músicos não tocam, o produtor musical não produz e os amantes não amam. Todos giram em torno do rock, mas nunca são vistos minimamente integrados à cena musical. Limitam-se a pegar carona em cantinhos de shows e festivais, de maneira visivelmente postiça. Patti Smith dá uma canja aconselhando Rooney Mara, enquanto Iggy Pop aparece rapidamente num camarim e Val Kilmer interpreta um roqueiro doidão. As canções, que ninguém se iluda, só mesmo no título.
Ma atinge o ápice da velhacaria quando busca contrastes entre suas figuras chiques e figurantes sem-teto, repetindo mais um truque barato do filme anterior. Ou quando providencia para o casal central um desfecho de redenção na chamada “vida simples”, filmada como um anúncio publicitário mais “radical”. Já li por aí que M deveria parar por mais 20 anos, como fez entre Cinzas no Paraíso e Além da Linha Vermelha. É triste, mas concordo. Antes que evapore completamente.
M, só o de Fritz Lang. Esse filme é perfume fake enjoativo em embalagem bonitinha mas ordinária.
Filme insuportável!!! Malick tem feito sempre o mesmo filme e cada vez pior. Repetitivo, cansativo e chatérrimo! Encontrou uma fórmula, que deve achar seu grande estilo e tem a audácia de empregá-la durante o filme inteiro sem trégua. Imagens flutuantes e quase o tempo inteiro pensamentos dos personagens em off através de um texto que se pretende alguma coisa de mais profundo, mas que não passa de um punhado de frases rasas, mais senso comum impossível. O pior é a pretensão!
Resumiu bem, Ciça.