Em MONSIEUR E MADAME ALDEMAN, Nicolas Bedos explora até que ponto uma história de amor pode absorver as crueldades, os enganos e a incorreção dos seres humanos. A promissora estreia do ator francês na direção conta os 45 anos (com interrupções) de vida em comum do casal Sarah e Victor, paralelamente à ascensão e queda da esquerda na França. Um humor ácido, às vezes impiedoso, desconstrói os chavões sentimentais sobre a família, a paternidade, o amor romântico e o sucesso literário, entre outras miudezas. Ninguém – ninguém mesmo – é merecedor de confiança absoluta nem de comiseração.
Pode-se entrever como a intimidade e o humor derrisório do casal Nicolas Bedos-Dora Tillier deve ter inspirado a história que escreveram e protagonizam. Ele com seu complexo de castração, ela com sua engenhosidade para obter o que deseja, Victor e Sarah estão longe de ser exemplares – o que faz a vivacidade e espirituosidade do filme.
Vozes narrativas se cruzam, planos objetivo e subjetivo se contradizem, prática de vida e criação literária se entrelaçam numa sucessão quase ininterrupta de diálogos espertos e pelo menos meia dúzia de gags absolutamente impagáveis. Nem tudo funciona às mil maravilhas na cronologia, com algumas progressões abruptas na caracterização do casal e uma revelação final que se choca com a lógica da exposição até ali.
Mas isso não diminui o apelo tragicômico daquela relação longeva que tanto resistiu às imperfeições do amor quanto se deixou esculpir por elas.
Gostei muito, do filme e da critica.
Que bom, caiçara.