Investigação sobre o ódio

Ninguém mais duvida que grande parte do mundo está vivendo um período de trevas. Nos EUA, supremacistas brancos agridem negros e chegam a ser defendidos em nome da “tolerância”. Na Europa, crescem os sentimentos anti-imigrantes. No Brasil, um candidato entusiasta da tortura e do estupro ganha índices preocupantes em pesquisas eleitorais para a presidência enquanto os vermes no poder desmontam o país para entregá-lo ao mercado. A sensação de sufocamento político é cada vez maior. O ódio ameaça soterrar os sentimentos de solidariedade e inclusão que pareciam prevalecer antes de 2016.

Daí que o assunto do documentário INTOLERÂNCIA.DOC não seja exatamente agradável. Mas poucos serão tão oportunos no momento atual. O filme sensoria algumas bolhas de ódio na cidade de São Paulo. A investigação de Susanna Lira se faz em dois níveis: acompanhando ações da Decradi, a delegacia da Polícia Civil destinada a combater a violência social, e entrevistando vítimas ou parentes de vítimas de crimes de ódio. Da cadeia de vinganças entre torcidas organizadas de futebol a choques entre punks antifascistas e skinheads, passando por espancamentos e assassinatos homofóbicos, o filme procura mostrar os mecanismos de propagação da intolerância numa sociedade crescentemente dominada pelo preconceito, o sectarismo e os discursos da violência.

Em pauta também as vozes que resistem a esta onda de lodo. Um policial ex-punk, uma cantora trans que virou ativista depois de sofrer uma agressão gravíssima e um dito ex-skinhead que se afirma eleitor de Jair Bolsonaro são alguns personagens que dão agudeza ao documentário.

O estilo incorpora tonalidades de thriller policial, com música atmosférica de Tito Gomes. Um impactante material colhido de câmeras de vigilância e da internet é complementado por animações para ilustrar os exemplos de intolerância, termo este muito bem definido por um dos entrevistados como “o preconceito transformado em ação”. O panorama é assustador e avança do mais supostamente lúdico (o futebol) para o mais pavorosamente ideológico. A coragem de Susanna Lira em mexer nesse vespeiro é algo digno de nota na ainda recente retomada do documentário político brasileiro.

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