A Mídia Ninja é um dos heróis da resistência digital enfocados por esse documentário canadense de Nicholas de Pencier. Felipe Altenfelder e “Carioca” representam no filme o coletivo que quebrou pela primeira vez a hegemonia da grande mídia na informação sobre os atos políticos públicos no Brasil. Eles são vistos em ação em meio a conflitos no Rio, inclusive com a agressão policial e a prisão de “Carioca”. Destaca-se ainda o papel dos Ninjas na inocentação do ativista Bruno Teles no rumoroso caso do coquetel molotov lançado por um P2.
ENCRIPTADO (Black Code) é um dossiê pormenorizado sobre a disputa do território digital pelos governos e pelo midiativismo independente. Disputa que é não somente de narrativas, mas também tecnológica. A partir do livro Black Code: Inside the Battle for Cyberspace, do professor de Ciências Políticas e diretor do Citizen Lab, Ronald Deibert – cuja palestra funciona como narração –, o documentário cria um recorte curioso. O Canadá e a Suécia aparecem como centros do saber cibernético, enquanto o uso desse saber na ponta é reportado em países em desenvolvimento.
Embora a guerra cibernética ocorra em maior escala no Norte e no Ocidente desenvolvidos, é no Sul e no Oriente que são colhidos os exemplos mais evidentemente dramáticos de desrespeito aos direitos humanos. Além do Brasil, vemos casos da resistência anti-ocupação no Tibete, da rebordosa da Primavera Árabe vivida na Síria, do ativismo etíope e paquistanês.
O insight nas práticas governamentais de vigilância do midiativismo é relativamente pouco, com a ênfase recaindo em alternativas mais “tradicionais”, como prisão, tortura, exílio, etc. Em contrapartida, o poder da massa-mídia (em oposição à mídia de massa) tem dado provas de crescimento e sofisticação.
Ivana Bentes, que complementa a participação brasileira no filme, propõe o termo “subveillance” para exprimir a vigilância de baixo, do povo, em contraste com o francês “surveillance“, que define a vigilância como algo de cima. Dado o seu pendor para neologismos certeiros, se fosse facultado à Ivana dar o título brasileiro para Black Code, certamente sairia coisa melhor do que ENCRIPTADO.