ESPERA – Festival de Brasília
A espera é um elemento frequente nos filmes de Cao Guimarães. Em Acidente (2004), ele nomeou “Espera Feliz” um módulo em que faz o espectador aguardar com ansiedade pequenos fenômenos físicos que acontecem de repente dentro da cena. Otto (2012) é o registro poético da gravidez de sua mulher, a espera mais sublime do mundo. Em seu novo longa, ESPERA, ele explora diversos sentidos desse estado de suspensão, uma gravidez de futuro.
Um jovem transgênero aplica-se testosterona e filma-se regularmente à espera das transformações no seu corpo e em sua subjetividade. Músicos e cantores aguardam o momento de entrar em cena numa ópera. Um porteiro tem por profissão esperar. Pessoas dormem ou consultam os celulares em salas de espera. Outras fazem fila desde a madrugada para receber uma doação de peixe. Uma mística do Vale do Amanhecer canta a espera do “Hindu Rei”. O próprio Cao resolve enfim retirar vários rolos de Super 8 que dormiam numa geladeira e fazer-nos esperar numa tela negra por sua revelação.
Cao Guimarães é um poeta da fenomenologia das imagens e do tempo. Sabe que a espera tem muitos sentidos. É tanto a de quem aguarda como a de quem deseja ou torce por alguma coisa. Viajar é esperar chegar. Ir ao teatro ou ao cinema é colocar-se à espera de certas coisas. O passatempo é um conforto da espera. Nesse filme, sem maiores radicalidades, ele quer nos sintonizar com o mero passar do tempo, coisa difícil no cinema e na vida de hoje. Quer nos colocar num estado não propriamente de expectativa (como em Acidente), mas de adesão ao mero ato de aguardar, que pode ou não levar a uma mudança ou acontecimento.
Esperar, verbo intransitivo.