CLÍMAX
Gaspar Noé, o radical chique do cinema francês, barbariza mais uma vez. Depois de aventurar-se pelo estupro e a ultraviolência (Irreversível), pelo esoterismo post-mortem (Viagem Alucinante) e pelo sexo explícito (Love), em CLÍMAX ele adentra o inferno de uma bad trip coletiva. Vinte bailarinos ensaiam um espetáculo (na verdade, exibem-se) e conversam fiado sobre sexo quando de repente percebem que a sangria que tomavam estava temperada com LSD.
Eis o pretexto para Noé transportar o vertiginoso talento contorcionista de seus bailarinos de street dance para um pesadelo coreográfico regado a gritos, estertores, investidas sexuais randômicas, violência, autoflagelação e até um matricídio. A plateia agradece por não presenciar alguma castração ou degola.
É inegável a exuberância das duas grandes cenas de dança, uma delas filmada do alto, numa angulação que altera completamente a percepção dos movimentos. O mesmo se pode dizer da perícia com que a câmera “persegue” os personagens em seus delírios através dos diversos cômodos do cenário.
Mas uma pergunta nos espera no final: para quê tudo isso? Gaspar Noé é um extremista do cinema comercial que não tem nada a dizer quando alcança seus extremos. A gritaria e a batida ininterrupta da dance music, somadas à absoluta futilidade das conversas (antes e depois do LSD), foram para mim uma overdose do intragável.
Topei com uma boa definição de CLÍMAX pelo crítico da Variety: “Fama dirigido pelo Marquês de Sade com uma steadicam”. Para quem aprecia uma mistura dessas, bom proveito!