Muita consciência, pouca esperança

O PROFESSOR SUBSTITUTO

Na primeira cena de O PROFESSOR SUBSTITUTO, um grupo de alunos reage com apatia à tentativa de suicídio do professor de francês, que se atira da janela no meio da aula. O filme de Sébastien Marnier, baseado em romance de Christophe Dufossé, será a investigação daquela estranha atitude. O substituto, Pierre Hoffmann (Laurent Lafitte), se sentirá intimidado pela conduta do sexteto liderado pelos sisudos Apolline (Luàna Bajrami) e Dimitri (Victor Bonnel), e passará a observá-los em seus encontros fora da escola (o título original do filme é L’Heure de la Sortie).

A turma é de alunos “intelectualmente precoces”, mas o sexteto liderado por Apolline e Dimitri têm características, digamos, especialmente especiais. Basta dizer que fazem exercícios clandestinos de resistência à dor, ensaiam canções de Patti Smith e colecionam vídeos de grandes catástrofes naturais e políticas. O objetivo deles é um enigma que intriga Pierre e alimenta a expectativa do público num gênero de thriller bastante original.

A relação entre professores e alunos tem sido um bom ponto de observação social para o cinema francês. Pensemos em filmes mais ou menos recentes como Ser e Ter, Entre os Muros da Escola e O Orgulho, nos quais questões como educação, autoridade, integração e conflitos geracionais são discutidas em regime de microcosmos. Em O PROFESSOR SUBSTITUTO, a alguns desses temas é agregado um tema maior, que é nada mais, nada menos que o fim do mundo.

A apatia dos seis adolescentes é fruto de um excesso de consciência e de um déficit de esperança face à degradação do meio-ambiente e à iminência de desastres fatais. Em contraste com essa lucidez um tanto fanática está a alienação de todos ao redor, especialmente dos professores e diretores do colégio, que não percebem ou não dão importância às bizarrices do pequeno grupo.

Pierre desponta, assim, como o único capaz de discernir e agir como se espera de um educador – o que torna o entrecho do filme um tanto esquemático. Ao mesmo tempo, pressionado pela arrogância de Apolline e Dimitri e pelo seu relativo despreparo para trabalhar com alunos daquele tipo, Pierre evolui para um complexo paranoico. O fato de estar trabalhando numa tese sobre Kafka contribui para torcer a realidade à sua volta numa espécie de pesadelo apocalíptico, a que não falta uma surpresa de comicidade desconcertante.

É mérito da adaptação dar formas visuais eficazes a diversas linhas de sugestão convergentes. A atmosfera suarenta de um verão impiedoso torna tudo mais denso e pegajoso. A trilha sonora “não musical” do grupo eletropop Zombie Zombie é outro fator de adesão magnética ao filme, com suas frequências ameaçadoras no nível subliminar.

Estamos aqui na fronteira tríplice entre o drama escolar, o thriller psicológico e o filme de terror de advertência. Fala-se de uma geração de jovens impregnada de informação e com um senso trágico de convicção, a cujas razões os adultos não têm acesso. Pelo menos, não antes da hecatombe.

 

 

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