Zoom no Galpão e a despedida do Cafi

ÉRAMOS EM BANDO e SALVE O PRAZER

Em dois médias-metragens, o Grupo Galpão se encontra na rede e o artista Cafi deixa um autorretrato pouco antes de morrer.

Galpão virtual

Impedidos pela pandemia de estrear seu 25º espetáculo, intitulado Quer ver Escuta, os atores do Grupo Galpão conformaram-se ao espaço virtual para dar continuidade a seus exercícios. Mas como uma experiência tipicamente coletiva como a do Galpão pode se reproduzir no contexto do isolamento social e nos limites dos quadradinhos do Zoom?

É com isso que eles se batem no média-metragem Éramos em Bando, lançado no site da Embaúba Filmes e no Youtube do Grupo Galpão. Batem-se literalmente com a dificuldade em compreender a luz, o quadro e a dinâmica da plataforma. As dificuldades da simpática Teuda Bara para lidar com acesso e câmera tornam-se um alívio cômico em meio a poemas e experimentações com o corpo e o espaço.

Não se trata apenas de passar do teatral para o audiovisual, como eles já experimentaram em Moscou, de Eduardo Coutinho, mas de saltar para uma virtualidade radical, onde não podem se tocar nem interagir confortavelmente. Nas imagens editadas de 23 encontros entre abril e maio, eles fazem de tudo para superar as barreiras: mostram partes do corpo e da casa, interpõem objetos e transparências diante da lente, compõem mosaicos de várias naturezas, massageiam-se e promovem microperformances, sob a direção (teatral) de Marcelo Castro, Vinícius de Souza e (audiovisual) Pablo Lobato.

A insatisfação inevitável com a fragilidade do meio é compensada pelo consolo de estarem “juntos” e poderem produzir alguma coisa que continue tendo a cara do grupo. Mesmo que essa criação se confunda com a própria discussão de sua viabilidade. No fundo, é o que todos temos vivido, fazendo o possível para mitigar a impossibilidade.


Cafi, o homem das capas

Os dois meninos sentados no barro, sob uma cerca de arame farpado, é talvez a imagem mais conhecida de um fotógrafo que emplacou mais de 300 capas de disco. A capa de Clube da Esquina não tem qualquer informação na parte frontal além da foto. Quando o disco começou a ser vendido, as lojas expunham a contracapa, onde constavam os nomes de Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges e companhia. Aos poucos, foram virando o lado e consagrando a foto.

O autor era Cafi (Carlos Filho), pintor, fotógrafo e figura carismática que viveu entre o Pernambuco natal e o Rio de Janeiro adotivo. Morreu no Réveillon de 2019 aos 68 anos, pouco depois de passear pelos dois cenários em companhia de Lírio Ferreira e Natara Ney para seu autorretrato em Salve o Prazer. O média-metragem estreia dia 28/9, às 23h, no Canal Curta!

Lô Borges e Cafi

A sensação é de que o filme foi feito na hora certa. Cafi estava bem disposto e contente em revisitar sua carreira, dos maracatus que tanto fotografou em Pernambuco ao carnaval carioca e aos amigos artistas com quem compartilhou a vida. Lírio e Natara registraram seus encontros com Alceu Valença, Deborah Colker (com quem foi casado), Lô Borges, Miguel Rio Branco, Jards Macalé, Ronaldo Bastos e Zé Celso. Em cada conversa, surge uma faceta do artista visual e do bon vivant Cafi. Macalé, por exemplo, o aconselha a parar de fumar e ficar só nos baseados de vez em quando. Lô Borges recorda a criação da capa do seu disco que mostrava apenas um par de tênis velhos e virou um clássico.

Por algum capricho da direção – ou do personagem roteirista – Cafi aparece em grande parte do tempo de costas. A ideia poderia render uma capa de disco. Assinada por Cafi, naturalmente.

Salve o Prazer estreia no Canal Curta! dia 28/9 às 23h. Reprises 29/9 às 3h e 17h; 30/9 às 11h; 3/10 às 15h30 e 4/10 às 23h.    

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