A LUZ DE MARIO CARNEIRO no Festival de Brasília
Depois de ter seu perfil ensaiado em pelo menos dois livros, um curta e um programa de TV, Mario Carneiro ganha um documentário de longa metragem. A base do material estava no programa que a própria Betse de Paula realizou em 2005 para a série Retratos Brasileiros, do Canal Brasil. O longa adiciona outros conteúdos, mas preserva o recorte autobiográfico.
É Mario e mais ninguém que reconta sua trajetória, dos estudos de Arquitetura na juventude à pintura e à gravura, que antecederam sua descoberta do cinema. Depois, filme a filme, ele comenta suas aventuras com a luz brasileira e a herança que trouxe das artes plásticas. Fazer cinema com cabeça de pintor o tornou parceiro inestimável de diretores como Joaquim Pedro de Andrade, Paulo Cesar Saraceni, Fernando Coni Campos e Joel Pizzini, entre tantos outros.
O tom é característico da non chalance de Mario, sempre enfatizando o lado pitoresco das coisas e roçando a indiscrição ao falar dos colegas e da vida privada. Se uma biografia pode flertar com a comédia, este era o cara. As brigas com o amigo Joaquim Pedro pontuam o relato, assim como os toques de autoderrisão (“o apartamento que eu podia ter comprado foi pago ao psicanalista até curar minha gagueira”).
O prazer de ouvir Mario se completa com a seleção de cenas do pintor em ação e dos filmes que ele fotografou, cenografou, montou ou dirigiu. O roteiro e a montagem de Marta Luz são ágeis e espirituosos. Na medida do possível para um longa sintético, dão conta de uma obra maiúscula no cinema brasileiro.
A Luz de Mario Carneiro foi viabilizado pelo Canal Curta! através do Fundo Setorial Audiovisual e vai estrear no canal em 2021.