RENZO PIANO: O ARQUITETO DA LUZ no streaming
Os projetos arrojados do italiano Renzo Piano frequentam inúmeros documentários sobre arquitetura. Ele é o autor de obras como o Centro Georges Pompidou em Paris, o edifício The Shard em Londres, a sede do The New York Times, o complexo da nova Potsdamer Platz – que inclui o Palácio do Festival de Berlim –, o novíssimo Museu do Oscar, estádios e museus em diversas partes do mundo. Além disso, teve a sorte de ter duas edificações suas registradas por dois grandes cineastas.
O último trabalho de Roberto Rossellini foi um registro (que não chegou a montar) do Beaubourg recém-inaugurado em 1977. Em anos mais recentes, Carlos Saura acompanhou a construção do Centro Botín, instituição cultural na cidade espanhola de Santander. As filmagens de Saura cobrem desde a primeira reunião de Piano com os espanhóis em 2010 até a inauguração do centro em 2017. Nesse período, o cineasta gravou várias conversas com Piano, nas quais o arquiteto faz aproximações entre o cinema e a sua arquitetura: ambos trabalham com a luz e fazem coisas para durar.
Dentro dos limites de um documentário convencional, embalado pelo adagio da 5ª Sinfonia de Mahler, Renzo Piano: O Arquiteto da Luz (Renzo Piano, un Architecto para Santander) consegue levantar algumas questões relevantes. Uma delas diz respeito às divergências entre o artista e os burocratas. Enquanto os representantes da Fundação Botín pressionavam para conter os gastos e garantir o prazo da inauguração, o arquiteto argumentava em nome da experimentação e da poesia. “A criação é como entrar num ambiente escuro. Precisamos dar tempo para os olhos se acostumarem e aos poucos definirem os contornos”, dizia mais ou menos assim.
As visitas de Renzo Piano ao canteiro de obras testemunham o prazer do arquiteto em tomar o pulso do ambiente e lamber sua cria enquanto ela está sendo gestada. A construção do centro, na orla da cidade, envolvia uma relação visual específica com o mar e a reurbanização do entorno, com a remodelação de um grande jardim anexo e o desvio do tráfego para um túnel subterrâneo. O conjunto de dois prédios, com plataformas que avançam para o mar, tem a leveza de uma nave espacial, tendência mundial que se verifica em obras como o MAC de Niterói (Oscar Niemeyer), o Museu do Amanhã no Rio (Santiago Calatrava) e o Louvre de Abu Dhabi (Jean Nouvel).
Saura, naturalmente, tira partido dessa opção estética para “construir” belas tomadas dos trabalhos de engenharia e do centro depois de concluído. Numa pegada de Frederick Wiseman, registra reuniões e assembleias com moradores da região, que foram chamados a opinar no curso do projeto. Tudo no sentido de encontrar a justa medida entre técnica e poesia, empreendimento e democracia.
>> Renzo Piano: O Arquiteto da Luz está na plataforma Reserva Imovision