FAYA DAYI no streaming
O título enigmático desse documentário vem de um canto de trabalho etíope e significa algo como “o nascimento do bem-estar”. Refere-se ao efeito de mascar o khat, uma folha de propriedades euforizantes e anfetamínicas. O hábito é secularmente difundido na África Oriental e na Península Arábica. O filme de Jessica Beshir é um retrato impressionista de uma comunidade de muçulmanos sufistas da Etiópia que vive da colheita e venda do khat, a principal commodity daquele país atualmente, em substituição ao café.
Fazendo uso de uma montagem muito livre e imagens estetizadas em preto e branco (com apenas duas tomadas em cores), Jessica procura entrelaçar o pensamento mítico das pessoas com a dura realidade em que vivem. Mascar o khat tem função religiosa e de conforto para as agruras da pobreza, mas também constitui um vício, uma perdição da qual os jovens tentam fugir para não repetir o destino dos pais.
Fala-se em emigrar para o Egito e dali para a Europa. Comenta-se sobre amor, casamento, violência doméstica, luta e opressão políticas. Mas nada disso chega a ocupar a fachada do filme, ficando apenas em menções esparsas em off. O que interessa de verdade à diretora é transformar tudo aquilo em belas e sugestivas imagens, muitas das quais em câmera lenta. As epifanias audiovisuais se sucedem: uma cortina ao vento, a fumaça que espirala no ar, mãos que interagem, uma voz que canta. O ritmo é calmo, hipnótico, eventualmente solene, e talvez pretenda emular a ação do khat sobre a percepção do usuário.
Vez por outra, essa cadência é cortada pela documentação do processamento e do transporte das folhas, ocultas sob uma camada de palha.
>> Faya Dayi está na plataforma Mubi.
Trailer legendado em inglês: