Fronteiras dramáticas do Acre

NOITES ALIENÍGENAS, o grande vencedor de Gramado: melhor filme, ator (Gabriel Knoxx), ator coadjuvante (Chico Diaz), atriz coadjuvante (Joana Gatis), Prêmio da Crítica e Menção Honrosa ao ator Adanilo. 

Chico Diaz e Gabriel Knoxx

A informação vem no letreiro final: nos últimos dez anos, a migração de organizações criminosas do Sudeste para a Amazônia aumentou em quase 200% os assassinatos de crianças e jovens no estado do Acre. É o que está na base do romance de Sérgio de Carvalho, adaptado livremente para o cinema e dirigido por ele mesmo. Noites Alienígenas faz uma crônica sintética desse estado de coisas através de cinco personagens intensos.

O filme começa com uma estrutura bastante solta, composta de alguns planos-sequência memoráveis mas que não permitem antever os rumos dramáticos futuros. Na periferia de Rio Branco, temos Riva (Gabriel Knoxx, ator e Mc), jovem traficante que trabalha para Ale (Chico Diaz), um mitômano supostamente carioca que o tem como uma espécie de filho. Riva namora Sandra (Gleici Damasceno), que tem um filho com Paulo (Adanilo), rapaz indígena atormentado pela dependência das drogas. A mãe de Riva (Joana Gatis) dissipa a solidão em bailes de carimbó e vive na fronteira entre o vício e a responsabilidade maternal.

Adanilo

À medida que vamos convivendo com os fragmentos daquelas vidas, a tensão se encorpa a partir de dois polos: os transtornos de Paulo e um desentendimento entre Riva e Ale, que leva o rapaz a procurar uma gangue rival.

Noites Alienígenas é um filme de trânsitos desesperados. Trânsitos entre o crime e a vida afetiva, entre a família e as ligações perigosas, entre a dura periferia da cidade e a floresta com seus sortilégios. A metáfora da cobra, que aparece em sonhos a Paulo e depois se converte em possível instrumento de cura, assim como as referências à abdução por discos voadores, são elementos que acrescentam mais um deslizamento: entre realidade e magia.

Joana Gatis

Sérgio de Carvalho conduz de maneira simples, mas prodigiosa, este entrelaçamento de destinos, prendendo-nos aos poucos em sua rede. O elenco está impecável, e o mesmo se pode dizer da fotografia de Pedro von Krüger, da montagem imprevisível de André Sampaio e do trabalho extremamente sugestivo da equipe de som.

O Acre tem a sorte de estrear no longa-metragem de cinema com um filme de alta qualidade, que traz um bom panorama da cultura urbana local. Lá estão os grafites, as rodas de slam, a dança de rua, as batalhas de freestyle e também os cultos evangélicos e os rituais indígenas que convivem no mosaico cultural da Amazônia contemporânea. Noites Alienígenas faz um belo par com Rodantes, longa que colocou Rondônia no mapa da produção recente.

Um comentário sobre “Fronteiras dramáticas do Acre

  1. Pingback: Balanço do meu ano cinematográfico | carmattos

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s