Filme ruim, atuação da pesada

A BALEIA

Retomando a carreira depois de um período de depressão e complicações de saúde, Brendan Fraser realmente impressiona em A Baleia (The Whale). Sua atuação é minimalista num corpo maximalista, expandido por um mix de ganho de peso, próteses e efeitos digitais. À exceção de duas ou três tomadas numa pequena varanda e em dois quartos, o filme se passa inteiramente na sala de Charlie, professor de inglês online que não liga sua câmera para não assustar os alunos com sua obesidade morbosa. Desabado no sofá ou numa cadeira de rodas, Charlie é o eixo em torno do qual giram a câmera e os outros quatro personagens da peça original de Samuel D. Hunter.

Um desses é a filha (Sadie Sink), que se sente abandonada pelo pai há oito anos, desde que ele trocou a família pelo romance com um aluno. As cobranças da moça são ferozes, até cruéis. Outra é a enfermeira e cuidadora Liz (Hong Chau, imerecidamente indicada ao Oscar de atriz coadjuvante), que tem uma ligação a mais com Charlie, como saberemos ao longo do filme. Um jovem missionário (Ty Simpkins) teima em aparecer para levar a palavra de Deus ao professor, enquanto a mulher de Charlie (Samantha Morton) chega para complementar as pressões contra o pobre homem.

A tudo Charlie reage com doçura, pois aos homens parece estar reservado o bom senso. As mulheres são arrogantes, agressivas e empedernidas, o que já sugere um estudo sobre a misoginia nos filmes de Darren Aronofsky. Este é um diretor dado a argumentos cheios de morbidez e pretensas alegorias míticas/místicas. No caso de A Baleia, há menções a Moby Dick e ao ideal de redenção pelo amor. Quando não está devorando sanduíches ou se engasgando e sufocando, Charlie está buscando reconciliar-se com a filha. O amor paternal é sua derradeira tábua de salvação espiritual, não importa quantos ao seu redor ofereçam outras opções de salvação (o hospital, a Bíblia). Por-se de pé a custo de muita dificuldade é sua maior vitória, mas também a sua última cartada, como vemos na sequência final.

A Baleia parece um filme propositadamente desagradável. É claustrofóbico e cheio de clichês de cineteatro ou telenovela, como a porta que todos saem batendo ou onde param para retornar, a disposição dos atores em função da câmera e do eixo-Charlie, enfim, a pobreza da encenação. Achei as personagens da filha e da cuidadora especialmente irritantes no tom sem variações e na platitude de suas falas.

Brendan Fraser pode ganhar o Oscar, mas o esforço de sua performance bem merecia melhor material.

>> A Baleia está nos cinemas. 

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