O crítico e amigo Ely Azeredo enviou comentários a respeito do assunto do meu post anterior, As contas do nacional-popular. Mais que meros comentários, acho que merecem o destaque de um post especial.
Rabiscos às margens de seu estudo para Filme Cultura
>O CANGACEIRO – Um dos muitos enigmas, até porque é sabido que havia “caixas de ingressos 2″ no mercado exibidor. A coisa se complicou quando a Vera Cruz entregou o filme à Columbia para quitar dívidas. O filme de Lima Barreto rodou mundo (legendas em árabe, japonês etc). Na última rodada pelos grotões USA, ”O cangaceiro” passou como “anglo”, com título trocado, e elenco de nomes gringos, à moda do western espaguete.
>APLAUSOS ENGAJADOS – O Partidão mandava seus fiéis puxarem aplausos para alguns lançamentos “nacional-populares”. O caso mais conhecido: “O pagador de promessas”. O companheiro e autor da peça teatral, Dias Gomes, merecia.
>O ÉBRIO – Um dos maiores sucessos de nossa História. Infelizmente sem registros “matemáticos”. Os exibidores rogavam por cópias. Pelo menos até as vésperas do Cinema Novo a produção da Cinédia ainda rodava pelas periferias e pelo deep Brasil. Nada que empolgasse a classe média – ao contrário das chanchadas Atlântida.
>OS HOMENS QUE EU TIVE – Só faltou dar cadeia para a menina Teresa Trautman, 22 anos, estreante na longa-metragem – essa historia de “ter homens”…no Brasil Grande (e Macho) da ditadura militar. Um estouro em 1973, no Rio, reforçado por polêmicas que atraíram a ira das censuras. Um grande circuito de SP reservara datas “a seguir”. Proibidíssimo. Quando Brasília largou o osso, muitos anos depois, a produção tinha perdido o Ponto G (a sexualidade estava na geléia geral) e os contratos de exibição deteriorados.
>MAZZAROPI – Sua história econômica nunca foi muito bem apurada. Sou testemunha ocular de que o pseudo-Jeca apreciava levar dinheiro de bilheteria em maletas. Eram tempos de menos bandidagem, e ele não fazia cerimônia com isso nos escritórios das distribuidoras. A partir de 1958, quando se tornou produtor, fechava seus acordos de exibição com os donos de cinemas – por circuitos e, frequentemente, sala por sala. Tornou-se também distribuidor. Pelo que faturava (isoladamente) na capital de São Paulo, continuaria rico se perdesse o resto de SP e do Brasil.
>INGRESSOS BARATOS – Enquanto os filmes norte-americanos chegavam montados no lucro de seu mercado doméstico, as produções brasileiras sofriam com o tabelamento dos ingressos – fator de estresse que entrou pelos anos 1960. ”O cangaceiro”, por exemplo, estreou durante o último governo Vargas, que não admitia qualquer reajuste na entrada da grande diversão popular. Certamente ingressos menos nanicos não impediriam a grande adesão popular a filmes como os citados acima.
Ely Azeredo