Brasileiros, irmãos, etc

Hoje às 23h30 vai ao ar na TV Brasil o sexto e último episódio da série documental TODOS OS BRASILEIROS DO MUNDO, de Fabiano Maciel. Não vale dizer que é das melhores coisas que vi na TV ultimamente porque não vejo muita TV, mas que é um trabalho e tanto, lá isso é. Com uma fotografia preciosa de Reynaldo Zangrandi e um edição que prima pela concisão, a série vem trazendo um olhar inédito sobre a nossa diáspora, o jeitinho brasileiro acomodado a cada diferente cultura, os distintos níveis de inserção dos imigrantes nas sociedades locais e, muitas vezes, um pouco conhecido protagonismo de brasileiros em certos contextos. Uma das qualidades dos programas é enfocar e aprofundar vivências específicas em cada lugar. Na Flórida, a presença da igreja evangélica, questões de imigração e participação política. Na Itália e na Suíça, o submundo de drags, travestis e prostitutas. Em Moçambique, brasileiros envolvidos no setor da saúde e no combate à Aids. No Paraguai e no Suriname, respectivamente, lavradores e garimpeiros. No Japão, operários e pequenos empreendedores. Hoje, finalmente, veremos brasileiros que vivem o amor em tempos de crise em Portugal e na Espanha. Fabiano articula depoimentos, cenas flagradas do cotidiano e vistas das cidades num conjunto quase sempre coeso, que nos coloca bem perto dos sentimentos dos expatriados. Depois de uma tumultuada estreia em junho, quando foi retirada do ar por questões de censura de faixa de horário, a série voltou esta semana e deixará saudades.

Toni Cervillo é um ator fenomenal, e o diretor de VIVA A LIBERDADE soube tirar bom proveito: o escalou em dois papéis. São irmãos gêmeos complementares, distantes portanto da pegada metafísica de “O Homem Duplicado”. No fundo, VIVA A LIBERDADE parece uma sátira política criada em conjunto por Nanni Moretti e Paolo Sorrentino. A cena inicial já serve para sutilmente abolir as diferenças entre Enrico e Giovanni, preparando o terreno para uma fábula de troca de lugares, coisa que os gêmeos provavelmente aspiravam desde sempre. Cervillo cria a distinção entre os dois personagens nas minúcias, e são esses mesmos detalhes que vão depois reconstruindo as semelhanças. Giovanni, o recém-saído do manicômio que ocupa o lugar do irmão senador durante uma difícil campanha eleitoral, revive um pouco o papel do Chauncey Gardner de “Muito Além do Jardim”: faz discursos vazios em que as pessoas projetam aquilo que querem ouvir. Assim o filme faz um comentário mordaz sobre os impasses da esquerda italiana. Uma comédia bipolar divertidamente implausível.

HERMANO – UMA FÁBULA SOBRE FUTEBOL é tanto sobre futebol quanto é sobre lealdade, compromisso e perseverança nas violentas favelas de Caracas. O mais notável no trabalho do diretor Marcel Rasquin foi fazer com que a trama familiar entre os dois irmãos e um terceiro personagem importante se resolvesse entre as quatro linhas do campo ou no seu entorno. O esporte aparece não apenas como lugar da esperança de ascensão social, mas também como palco de um drama que transcende o jogo, envolvendo abandono infantil, tráfico de drogas, vingança e gravidez precoce. Como o mais recente “Pelo Malo”, HERMANO (de 2010) também cava um lugar para o cinema venezuelano no cenário internacional e ganhou prêmios em Moscou e Havana. Isso não o isenta de limitações como os excessos melodramáticos, as caracterizações estereotipadas de coadjuvantes e uma maneira bastante ingênua de encaminhar sua história de tenacidade e redenção. É curioso o relato do diretor sobre um acontecimento que o inspirou a escrever o roteiro: duas passeatas, uma contra e outra a favor de Chávez, se aproximavam de um choque nas ruas da capital quando alguém jogou uma bola de futebol entre eles. Em minutos, a manifestação se transformou numa grande pelada.

Em O AMOR É UM CRIME PERFEITO, estamos bem longe de um Chabrol, um Melville ou mesmo um Alain Corneau, para citar alguns bons exemplos de policial à francesa. O envolvimento do professor de criação literária vivido por Mathieu Amalric com suas alunas gostosas e a morte misteriosa de uma delas me despertaram um interesse bastante ralo. Se o filme tem um início auspicioso e um final bem construído, entre um ponto e outro imperam a monotonia e a ausência de qualquer suspense. Os personagens têm uma ambiguidade pré-fabricada, principalmente o professor com sua distância emocional de tudo e o jeito de sedutor empolado com que conduz suas aulas (aliás, quem ainda suporta professor francês posando de Don Juan assediado?). Suas relações com a irmã e a mulher que o procura após a morte da moça carecem de uma mínima plausibilidade, até porque se dão através de diálogos muito ruins. As montanhas nevadas nos arredores de Lausanne (Suíça) dão a temperatura adequada a uma trama na qual faltou aquecimento.

A vida está mesmo difícil nos cinemas de Botafogo.
No Estação Botafogo 3, quem vê um filme tem direito a ouvir dois, pois o som da sala 2 invade a sala 3. Pela lógica capitalista, é lucro, mas pelo critério da fruição, é um pesadelo.
No Espaço Itaú de Cinema, semana passada, saí aos 2 minutos de uma sessão de “Uma Juíza sem Juízo” porque as imagens de uma tela retangular estavam espremidas numa projeção quase quadrada. Mais uma vez procurei o gerente, que me disse saber do problema mas nada poder fazer. Perguntado se a direção do cinema (leia-se Adhemar Oliveira) tinha conhecimento daquilo, respondeu-me que sim. A orientação superior era passar os filmes daquele jeito até que cheguem os novos projetores. Ou seja, enquanto não chega uma remessa de presunto fresco, venda-se o estragado.
E assim estamos…

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