Noite, de Paula Gaitán, passa nesta sexta (8/7), às 19h, no Ocupa Minc-RJ (Palácio Gustavo Capanema), seguido de um show de Ava Rocha.
Lembro que Paula distribuiu tampões de ouvido aos espectadores do longa na Semana dos Realizadores de 2014. Ela sabia que fez um filme “extremo”, e não apenas no aspecto sonoro. Depois do relativamente narrativo Exilados do Vulcão, quis partir para uma empreitada ainda mais experimental. Assumiu ela mesma a câmera (e depois a edição) para filmar instantâneos da noite carioca, principalmente em dois points festeiros de Botafogo.
Hits de pauleira eletrônica e de música noise se alternam com blues, canções latinas e performances de Arrigo Barnabé, Arto Lindsay e Ava Rocha, entre outros, num filme que é puro exercício de mixagem audiovisual. As músicas se sucedem sem pausa e dialogam com a busca incessante de Paula por texturas sobrepostas, pixelizações, estroboscopia, refrações de luz e de cor. Mas há sobretudo a procura de um estado de alteração dos corpos dançantes, algo que vai da anomia ao êxtase. Daí que o filme se avizinhe um pouco da estética de Arthur Omar, seja pela fisicalidade exuberante, seja pela conjugação erótica e hipnótica de imagens e músicas possantes.
Em meio a músicos e consumidores, a atriz Clara Choveaux evolui como uma top model transcendental, presente e ausente ao mesmo tempo, quase etérea entre purpurinas e reflexos. De certa forma, é a projeção de Paula dentro da cena, o desejo de confundir-se com a matéria do seu filme. Noite é trabalho que pede não exatamente uma sala de cinema, mas um ambiente expandido que o liberte de expectativas mais convencionais. Se bem que o foco direcionado do cinema deixe bem evidentes sua força e beleza.