Bahia, meu passado alheio

Depois de quatro dias curtindo a terrinha de Salvador, de onde saí aos sete anos de idade, sigo amanhã para a histórica Cachoeira, onde vou assistir ao festival CachoeiraDoc (6 a 10 de setembro).

Salvador fala fundo às minhas primeiras lembranças de infância, entre a Ladeira da Praça, a Baixa dos Sapateiros, o Pelourinho, o Comércio e o Garcia, com seus cheiros de dendê, laranja cortada e limo velho das paredes e muros. Na minha memória, a cidade sempre foi vetusta, encardida e colorida, hoje ainda mais por conta dos grafites. Sempre que volto, me deleito com as baianas escarrapachadas em suas cadeiras pregando os produtos, os carrinhos de café, os moleques estacionados nas esquinas, as rodinhas de samba e berimbau que encontramos aqui e ali. Não me avexo de ter uma visão turística da minha cidade natal, pois fiquei tão distante por tanto tempo que cada retorno é um misto de revisita e redescoberta. De volta a um passado que, embora guardado em mim, parece alheio.

Mas em Cachoeira será de fato minha primeira vez. Desejo antigo que enfim se realiza. Tombada pelo IPHAN desde 1971, a cidade abriga o curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), que promove o CachoeiraDoc. Programei esta viagem para coincidir com o festival, que está em sua sétima edição. A mostra competitiva reúne 16 curtas e ll médias e longas documentais, sobre os quais a curadoria destaca a relação fértil entre estética e política: “A coleção de documentários brasileiros contemporâneos que aqui se apresenta foi urdida pela urgência – dos filmes e do Brasil. Nos guiou o entendimento de que a política no documentário é tanto sensibilidade quanto ação, e apostamos no questionamento da usual cisão ou hierarquia entre invenção formal e militância.”

A chamada Mostra Contemporânea vai exibir curtas que “iluminam à sua maneira essas trevas para onde nos levaram o patriarcado, o machismo, o preconceito, a ganância, o autoritarismo”. Por sua vez, a Mostra Com Mulheres pretende jogar mais complexidade nas habituais classificações de filmes “de mulheres” e filmes “sobre mulheres”. No entender das nove curadoras envolvidas – representando diversos festivais –, a  preposição “com” indica diferentes modos de partilha entre diretoras, personagens e espectadorxs. As curadoras estarão discutindo seus trabalhos e papel político no seminário Vivência em Curadoria, já no primeiro dia do festival.

Nos próximos dias vou publicar notas sobre a programação do CachoeiraDoc aqui no blog e no Facebook.

 

 

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