DIAMANTINO
O humor autoderrisório dos portugueses dá mais um show na comédia DIAMANTINO. Debochadamente inspirado em Cristiano Ronaldo, o personagem-título é tido como “o maior jogador de futebol do mundo”. Fora dos campos, é um bobalhão alienado, virgem, filhinho de papai e dominado por suas duas irmãs gêmeas, megeras tirânicas que exploram sua fortuna. Quando fracassa numa partida decisiva de Copa do Mundo, Diamantino (Carloto Cotta) cai em desgraça – o que atualmente significa virar meme na internet – e resolve reinventar-se.
Daí em diante, o filme escrito e dirigido pelo português Gabriel Arantes e o americano Daniel Schmidt, vencedor do Grande Prêmio da Semana da Crítica em Cannes, tira sarros em diversas frentes. A súbita compaixão do jogador pelos refugiados africanos (“quero adotar um refugiadinho só para mim”) o leva a cair na rede da polícia secreta lusitana, que anda investigando seu patrimônio. A submissão às irmãs o torna cobaia de um experimento genético capaz de levantar o orgulho dos portugueses e ajudar a extrema direita a retirar Portugal da União Europeia.
A lâmina satírica é afiada, e não só em relação aos temas políticos e sociais. Há um deboche constante com as formas cinematográficas pelo uso deliberado de uma estética trash, efeitos visuais precários e referências divertidas que vão das histórias de terror com gêmeas a clichês de publicidade, passando até por um hábito de freira saído do desfile de moda eclesiástica do Roma de Fellini. Embora em nível mais popular, estamos na seara da comicidade non sense de Miguel Gomes e João Pedro Rodrigues.
Com seu hilário acento verbal e caras de idiota, Diamantino, no fundo, é uma alma infantil que credita o sucesso nos gramados às visões que tem de cachorrinhos felpudos gigantes envoltos em nuvens rosadas. A crueldade de todos para com ele após o fiasco reflete uma síndrome social muito comum. Mas, no fim das contas, essa é também uma visão original e burlesca do encontro do amor verdadeiro.