TITO E OS PÁSSAROS
TITO E OS PÁSSAROS prolonga o bom momento da animação brasileira, que ultimamente emplacou três longas nas principais vitrines internacionais. Depois de Uma História de Amor e Fúria e O Menino e o Mundo vencerem o Festival de Annecy e este último ter sido indicado ao Oscar, TITO E OS PÁSSAROS ganhou melhor animação do Festival de Havana, foi indicado ao Annie – o grande prêmio de animação dos EUA – e chegou a uma pré-lista do Oscar. Veja informações mais detalhadas sobre o filme nessa matéria de Maria do Rosário Caetano.
A atmosfera é apocalíptica. A população está ameaçada pelo “surto”, uma epidemia de medo. Basta encarar um contaminado e logo o contágio se estabelece, terminando por transformar a vítima numa pedra. A metáfora cai como uma luva para governos autoritários que empregam o medo como controle social e chantagem capitalista. A indústria do medo é representada por um empreendedor e homem de mídia (que sugere a lembrança de Silvio Santos) interessado em comercializar seu condomínio ultra-seguro, o Jardim Redoma.
Contra isso se insurge o menino Tito, filho de um cientista que pesquisava a linguagem dos pombos como antídoto contra o medo. Depois que o pai desaparece de casa, ele se empenha com três amiguinhos na busca da misteriosa cura.
Ao mesmo tempo que mobiliza questões razoavelmente adultas e complexas, o filme de Gustavo Steinberg, Gabriel Bittar e André Catoto (com argumento e roteiro de Eduardo Benaim) adota uma “solução” ingênua, relacionada a um suposto espírito coletivista dos pombos de rua, “livres e rejeitados”. Fica um certo descompasso entre enunciados e mensagem.
O modelo narrativo é tipicamente americano, marcado por iniciativas individuais e ação veloz. Isso faz com que a história avance um pouco aos solavancos, com alguns estágios confusos. Os diretores admitem influência de Os Goonies, mas esteticamente há traços de Hayao Miyasaki, o gênio do Studio Ghibli. Aliás, é onde o filme mais encanta. A combinação de animação digital e pintura manual alcança resultados deslumbrantes. Nas cenas de ação, os movimentos de matérias e de luzes são feitos com pinceladas grossas, de linhagem expressionista. A intensidade visual é acompanhada por uma rica trilha orquestral parcialmente gravada em Londres.