JORNADA DA VIDA
Em JORNADA DA VIDA, o personagem de Omar Sy viaja por alguns dias pelo interior do Senegal num carro dilapidado, dorme no relento e no entanto mantém sua camisa impecavelmente limpa e engomada. Podia ser uma metáfora de sua condição de “Prestígio”, como lhe chamam no caminho, ou seja, preto por fora e branco por dentro, criado na França, ator famoso e escritor de sucesso. Mas é apenas mais um artificialismo entre tantos nesse filme que parece um Central do Brasil desidratado de toda emoção.
Seydou Tall (Omar Sy) afeiçoa-se ao menino Yao (Lionel Louis Basse), que viajou quase 400 km para conseguir seu autógrafo na Bienal de Dakar. Resolve, então, levar o garoto de volta a sua aldeia, num périplo através de estradas, mercados, merchandisings, policiais corruptos, aldeões hospitaleiros e a indefectível passagem “poética” pela beira do mar. Há também um breve interregno amoroso com uma cantora e dançarina (a estelar Fatoumata Diawara) que cruza o caminho da dupla.
Tudo soa extremamente previsível, convencional e postiço. Em nenhum momento se instala um arco dramático na relação entre os personagens ou deles com os cenários. Supostamente, o menino encontraria alguém com quem desenvolver sua sensibilidade cultural e o ator, a oportunidade de refazer contato com suas raízes. Mas nada disso se estabelece minimamente. Ninguém passa por uma transformação ou atinge um novo grau de conhecimento ao longo da viagem, restando somente um esboço de sentimentalismo.
Além disso, apesar de boas inserções de cidades e paisagens, o folclorismo ronda perigosamente a visão que o diretor e roteirista Philippe Godeau nos oferece dos costumes e do misticismo do Senegal.