UNDINE no streaming
Undine só fez confirmar – ou melhor, aprofundar – minha incompatibilidade com o cinema de Christian Petzold. Se Barbara, Phoenix e o prestigiadíssimo Em Trânsito bateram mornos em mim, Undine foi um banho de água gelada. A metáfora aquática vem a calhar, pois a personagem-título tem o nome de uma ninfa das águas da mitologia germânica que, ao ser traída por seu amante, lança-lhe uma maldição na qual ele não pode mais respirar.
O argumento original de Petzold pretende trazer esse mito para a realidade da Berlim contemporânea, mas o faz de uma maneira completamente canhestra. Undine (Paula Beer, uma quase-sósia de Brigitte Bardot) é uma guia de visitantes ao Senado de Berlim, onde dá explicações sobre a urbanização da cidade. Não me perguntem a relação disso com o resto da história que eu não saberia dizer. Seu namorado a troca por outra e, logo em seguida, ela se apaixona por um mergulhador industrial (Franz Rogowski). Forma-se um triângulo amoroso bem esquisito, cujas consequências serão trágicas.
O Adágio do Concerto para Cravo BWV 974 de Bach merecia destino melhor do que pontuar esse misto de fábula e melodrama que só conversam a golpes de martelo do roteiro. Basta dizer que envolve afogamentos, morte cerebral, ressurreição e encontro com cadáver submerso. Se Petzold tivesse optado por assumir o fantástico, como fez Guillermo del Toro em A Forma da Água, talvez Undine não fosse tão brega em sua tentativa de navegar entre dois mundos.
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