É Tudo Verdade: O FILME DA SACADA
Podia ser mais um filme de pandemia, mas foi feito antes. Durante várias estações, Pawel Lozinski instalou câmera e microfone na sacada do seu apartamento numa rua tranquila de Varsóvia e chamou os passantes da calçada para um bate-papo à distância. Pedia que dissessem alguma coisa sobre si e sua vida. Qualquer coisa. Desde que abrisse uma janela de conversação.
Alguns passam por ali uma única vez. Outros são transeuntes habituais e desenvolvem uma relação frequente com o maluco que está fazendo um filme sem botar os pés na rua. Há a viúva que há 13 anos lamenta a morte do marido; o ex-presidiário que tenta refazer a vida honestamente; a faxineira já idosa que limpa a calçada e apara os gramados dos vizinhos; a moça introvertida que se surpreende conversando com um estranho. E assim por diante.
Para nós, brasileiros, O Filme da Sacada (Film Balkonowy) tem um gosto de Eduardo Coutinho. Mas só até certo ponto. Coutinho conversava depois de conhecer os interlocutores através das gravações de pesquisa. Pawel (filho do célebre documentarista polonês Marcel Lozinski) investe no puro acaso de quem passa e nas eventuais recorrências. Daí surge a grande diferença. O acaso, se não precedido de alguma estratégia, pode render pouco. É o que acontece aqui.
Não deixa de haver conversas engraçadas, curiosas, inteligentes. Aqui e ali vem à tona algum flash de humanidade interessante, que nos faz pensar. Mas, em boa parte do tempo, impera o banal naquele pedaço de calçada que é o único cenário. O filme, a princípio delicado e caprichoso, vai se tornando um pouco tedioso à medida que a graça do dispositivo se esgota e não se avança para além dos esboços de conversa. Lozinski talvez não seja um bom perguntador. Ou sua rua seja tranquila demais para exemplificar a diversidade humana.
Exibição:
03/04 – 19h: online – É Tudo Verdade Play – Limite de 1500 visionamentos.
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