Dispositivo: dramaterapia

NO CAMINHO DA CURA no streaming

No Caminho da Cura (Procession), documentário que chegou à shortlist do Oscar de 2022, me causou sensação semelhante à de Professor Polvo. Um excesso de roteirização transforma o que seria um psicodrama num duvidoso processo de reabilitação. Seis homens que sofreram abusos sexuais por padres no Kansas nos anos 1980 ajudam a dramatizar cenas cruciais de suas memórias (os gatilhos) com vistas a se desassociarem do trauma através da lógica e da razão teatrais.

São orientados por uma dramaterapeuta cujo trabalho, afinal, pouco aparece. Por coincidência ou escolha de casting, todos são aptos a executar tarefas da produção do filme: pesquisar locações, cenografar, desenhar storyboards… São também excelentes performers, juntamente com um ator mirim que interpreta cada um deles na infância. O resultado é que nunca sabemos a fronteira entre espontaneidade e encenação, uma vez que até as emoções parecem emanar do roteiro.

Alguns deles ainda estão na batalha para responsabilizar judicialmente seus algozes, hoje muito velhos, quando não já falecidos. A participação no filme é como uma confirmação do seu status de “sobreviventes”. É grave, é doloroso, é engenhoso – mas ao mesmo tempo levanta a suspeita de certa fabricação travestida de observação, na qual todos participam.

Resultado bem mais conflituoso e interessante na incorporação do psicodrama pelo documentário é obtido por Orestes, do brasileiro Rodrigo Siqueira.

>> NO CAMINHO DA CURA está na Netflix.

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