GLAUCE
Uma corrente de afetos liga as atrizes Glauce Rocha, Françoise Forton e Débora Duboc. Glauce foi a mentora artística de Françoise, que queria homenageá-la com a peça Glauce, escrita por Leonardo Netto. Antes, porém, que pudesse fazê-lo, Françoise morreu em janeiro de 2022. A bela missão acabou ficando para Débora, madrinha do casamento de Françoise com o produtor Eduardo Barata.
Glauce está em cartaz no Sesc Copacabana nas duas próximas terças e quartas-feiras, às 19 horas.
Trata-se de um monólogo cheio de eletricidade dramática. Tudo se passa no dia da morte de Glauce Rocha, 12 de outubro de 1971, poucas horas depois de ela receber um telefonema misterioso falando de morte. Esse sinal parece desencadear um fluxo de consciência e de memória que a faz repassar momentos de sua carreira, de seus amores e de seu ativismo contra a ditadura e em prol dos direitos de atrizes e atores.
Não há a intenção de “imitar” a inimitável Glauce. Dirigida pela xará Débora Dubois, Débora Duboc impõe-se na cena do início ao fim com sua incrível capacidade de evocar emoções e transitar em fração de segundo de um estado de espírito para outro. O texto favorece essa montanha russa mental de uma mulher sacudida tanto por sinapses interiores quanto por micro-acontecimentos à sua volta. No palco praticamente nu, a atriz sugere cada um desses indícios recorrendo somente a insinuações corporais e pantomimas como a de acender sucessivos cigarros invisíveis. Sua parceira em cena, na verdade, é a luz, que vai marcando cada passo dessa longa jornada.
Não sabemos como Françoise Forton faria sua Glauce, mas o encontro dessas duas Déboras com a herança deixada por ela é, sem dúvida, um momento luminoso de teatro.
