Quando fazia suas encenações no Teatro Nelson Rodrigues e não conseguia impedir que o teatro vendesse balas, Gerald Thomas comprava todo o estoque da bonbonnière. Assim evitava acréscimos indesejáveis à elaborada sonoridade de suas peças.
O Teatro dos Quatro sofisticou o sacrilégio: um baleiro percorre a plateia mercando seus produtos até o momento do segundo sinal. Ou seja, quando começa A Alma Boa de Setsuan, está começando também a sinfonia de saquinhos plásticos, amendoins mastigados etc. Como se não bastassem as pipocas e a fantástica fábrica de chocolates em que se transformaram os cinemas, agora o próprio teatro coloca esse arsenal no colo do espectador.
Ainda bem que o bonito e dinâmico espetáculo de Marco Antonio Braz resiste à sonoplastia selvagem das balas. Mas imaginem isso num monólogo da Fernanda Montenegro. Calculem um vendedor de estalinhos num show de João Gilberto.
concordo! é de doer,literalmente, os ouvidos.